sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Encanto

A moça perdeu todo o seu brilho quando parou de sorrir. Parou de sorrir porque começou a perder todos os seus amigos. Parou de sorrir porque, certo dia, acordou e percebeu que todos os seus dentes haviam virado ouro. Não teve mais coragem de mostrar seu sorriso. As pessoas que viam, debochavam, se afastavam, excluíam. Ficou conhecida como a moça dos dentes de ouro.

Viveu dias tristes. Não saía de casa, não tinha amigos, não conversava, não se olhava no espelho – tinha vergonha de si mesma. Chorava dia e noite por se julgar desprivilegiada: tinha dentes que ninguém tinha. Era uma estranha no ninho.

Debruçada na janela, escondida atrás das cortinas, conheceu um moço bonito que passava todos os dias na frente da sua casa. Apaixonou-se. Esperava-o ansioso sempre quando batia cinco horas da tarde. E olhava-o com uma paixão latente, querendo não apaixonar-se. Sabia que ele nunca olharia para ela.

Perdeu noites de sono. Imaginava o moço bonito carregando-a no colo, beijando-a, ela que tinha os dentes de ouro. Nos seus sonhos, via o moço bonito abraçando-a e dizendo que a amava como ela era. Quando a moça dos dentes de ouro despertava, chorava a decepção de nunca poder namorar o rapaz.

Num desses dias em que as estrelas piscam pra gente, a moça dos dentes de ouro notou que o rapaz bonito olhou-a dentro dos olhos. Ela ficou sem graça e desviou o olhar. Foi então que ele se aproximou. Não disseram nada um ao outro. Houve um riso de almas, os sinos do interior tocaram, confetes caíram do céu. Enterneceram-se diante um do outro. Ela abriu a porta pra que ele pudesse entrar. Sentaram-se no sofá. Ele pegou-a pela mão. A moça suou frio com medo de que ele percebesse seu sorriso. Mas ela estava tão feliz que não conseguiu segurar. Sorriu o sorriso mais lindo do mundo. Estava apaixonada. Ele, ao invés de repeli-la, abraçou-a. A moça sentiu seu coração explodir dentro do peito. Depois ele sussurrou algo bonito de se ouvir e ela chorou. Foi então que, desfeito o abraço, ela encarou-o de frente. O moço bonito sorria pra ela. E ele mostrou-lhe seus dentes de ouro.


21 comentários:

Renato Ziggy disse...

Lipão, linda a história!

Os dentes de ouro todos nós temos. Precisamos é de um par de olhos que os enxerguem com bons olhos... Nem sempre essa outra pessoa precisa ter o mesmo tipo de dente de ouro da outra. O importante de tudo isso é o olhar que temos para as coisas, se as vemos com olhos bons ou ruins.

Isso faz diferença pra tudo. E é por isso que Deus te fez poeta, porque teus olhos são de ouro. Você tudo olha e coloca poesia até no que não tem...

Amo-te! Teu mano,
Zy

Junkie Careta disse...

Cara,gostei do tútulo doblog e passei aqui. Gostei muito do texto. De quem é?

Mariana Lima disse...

ok! que bom que gostou da minha divisa... voltarei aqui mais vezes tb!!

sofisma me lembra ago de filosofia que lí a um bom tempo atrás... mas não sei dizer nem o que é, pois minha memória é muito falha, sabe...

téh!

Mariana Lima disse...

dentes de ouro só ví em filme, mas num sei se foi james bond ou sei lá... hehe

Critical Watcher disse...

"Será que existe alguem capaz de nos amar tal qual somos?"

Essa pergunta sempre foi uma constante... E eu sei que, mais do que nunca, a resposta é sim. Sei que lá no fundo daquele baú ou no emaranhado de cartas e declarações existe o alguém esperando pelo nosso sorriso.

Encontrá-lo, o alguém, pode ser a tarefa mais árdua... E eu sinto prazer em continuar à procura de meu quase reflexo...

Lindo texto.

Valeu!

Anônimo disse...

Menino da alma bonita, o seu texto hoje está fantástico!
É bem assim mesmo, eu acho. Cada um de nós tem dificuldades e tantas coisas bonitas. (que podem ou não ser diferentes do que se espera)
Mas tem sempre alguém parecido com a gente, que quer mais ou menos as mesmas coisas, que espera mais ou menos as mesmas coisas, que vive mais ou menos as mesmas coisas.
Lindo, lindo!

Beijos.

Anônimo disse...

É, bonita estória!
Felizes são 2 amores que se completam.


ps; tem até uma relação com meu texto que eu postei por último.

Abraço!

Bárbara Matias disse...

Num é que, no fundo, se eu tenho dentes de ouro e você não tem dente algum, somos bem semelhantes?

Estamos todos debaixo da mesma natureza... isso nos torna iguais! Mas sempre comparamos nossos dentes e acabamos sempre por achar q é melhor não tê-los do que serem de ouro!

Como sempre um "encanto"...

Bjos!

Unknown disse...

O mais legal é que os dentes não são podres, são de ouro. É como se auto-aceitação não dependesse de ser realmente bom ou ruim, mas apenas diferente.
A gente vive nessa sociedade que afoga pérolas.

Unknown disse...

Ah sim, e obrigado pelo selo. =D
Fico muito grato com as suas visitas, e muito feliz que você goste.
Também aprecio bastante os teus textos. ;)

J.S. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
J.S. disse...

Parabéns pela sua história...muito boa!!! Acho que também tenho dentes de ouro...
:]

Nathalia Alves Vanderlei disse...

Felipe, beeelo texto.
Um subjetividade com tantos significados.
Adorei, parabééns!

ah, te linkei.

Anônimo disse...

Existem pessoas que tem a capacidade de enxergar o nosso interior e nos amam pelo que nós somos e não pelo que aparentamos ser, mas há também aquelas pessoas que amam as outras não pelo que elas são, mas pelo que elas têm. Eu acredito na velha história que na verdade é uma mitologia grega, de que cada um de nós temos uma alma gêmea, mesmo que muitos ainda não a tenham encontrado.

=)

Chellot disse...

Cada pessoa tem algo que a envergonha, sejam os dentes de ouro do conto ou um defeito qualquer. Mas nos esquecemos que ninguém é perfeito e assim como a moça encontrou alguém que possuia os mesmos "defeitos" dela, também nós encontraremos amigos, parentes e a nossa cara metade com problemas parecidos com os nossos, com desejos, expectativas, sonhos e medos tal como os nossos próprios.

Beijos de Lua.

Clareana Arôxa disse...

Primeiramente, muitíssimo obrigada pelos selos e perdão pela demora para pegá-los.

E é tão bonito quando se acha alguém parecido com a gente. Dá sentido colorido à vida.
Eu também creio em finais felizes.

beijo!

Jaya Magalhães disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Selo novo pra sua coleção lá no meu quintal...
Beijos.

o Cronista disse...

ahuaauh
parece q tds os blogs só falam nisso!
será a fertilidade das chuvas de verão???
otimo texto"

Carlota Polar disse...

Primeira vez que esbarro no teu blog. E, o que posso dizer? Estou encantada. Me fez abrir o meu melhor sorriso, seja ele de ouro ou não, não importa. Me faz desejar, ansiar, querer. Querer ir além, sonhar até não poder mais, romper com o mundo pra perseguir um caminho que vai pra dentro.

Obrigada por mostrar que tem mais "refugiados" por aí do que às vezes se pensa.

Se importa se eu continuar vindo aqui?

Marina Mah disse...

Que lindo!
Acredito que cada um de nós tenha seus dentes de ouro, nem sempre na boca...rs!
Muito obrigada pela visita no blog. Visite-me mais vezes!
Prazer em lê-lo!