sábado, 20 de junho de 2015

Tardes insones.


Já não ligo mais pras horas.

Meu relógio faz movimento inverso.

Regrido.

Amanheço.

E quando adormeço, meu coração ancora.

Meu peito enternece, minha cortina esvoaça.

Lentamente eu puxo a coberta.

O frio me esquenta a alma.

E a coisa que eu mais gosto é encostar meus pés gelados.

Em você.

Talvez eu devesse tomar mais uma aspirina.

A mente embaralha os movimentos da luz torta.

Essa que entra através da cortina que esvoaça.

No espelho, a reprodução da minha tez espessa.

Da minha solidão imensa.

É o retrato do licor que já bebi, em amargura.

Soluçando os verbos que me saem bêbados.

Enquanto eu encaro sua nudez afoita.

Seus olhos cerradinhos. 

Seus cabelos espalhados despropositadamente.

No meu travesseiro.

Você conhece muito bem o meu vazio.

E preenche com martini –

Que eu nunca tomei, mas parece uma bebida sofisticada.

Eu te olho de relance.

Você é tudo aquilo que eu queria.

Nas minhas tardes insones.