quarta-feira, 31 de julho de 2013

Pra você saber

Eu queria te dizer que a vida é muito curta pra gente brincar de bem-me-quer-mal-me-quer. Que, antes de buscar a certeza de qualquer sentimento, a gente tem que ter a vontade de senti-lo, de tê-lo pulsando dentro do peito, ardente. Que antes da meia-noite todo mundo se posa de maduro e sensato, mas ao encostar a cabeça no travesseiro, todos os medos insistem em retomar a visita da noite anterior.

Eu queria te dizer que eu nasci amando. Que eu só sei fazer isso: amar. E que eu não acredito em amores diferentes: amor, pra mim, é igual em qualquer direção. Que eu nunca te amei de verdade porque eu nunca li o amor nos seus olhos. A gente não ama sem querer, como você já supôs em uma conversa de botequim. A gente ama é no dia-a-dia, quando o som dos passos da outra pessoa, chegando devagarinho, é capaz de beliscar qualquer ponto da alma, numa insensata alegria. A gente descobre que ama quando não faz mais sentido viver sem. Os ares pedem aquela pessoa, os risos são daquela pessoa, os pensamentos furtados, durante uma reunião de negócios importante, são daquela pessoa. O amor é a certeza quase absurda de que não é apenas o coração que chama pelo outro. É o corpo inteiro que funciona como imã, zoom, capaz de buscar a melhor resolução. Tudo se torna extremamente possível.

Eu queria dizer que eu gostei de você, você gostou do João, que gostou da Amanda, que gosta do José. Ninguém gostando reciprocamente de ninguém. E que vai ser sempre assim. Porque a gente vai gostando até descobrir o dedinho torto do pé direito ou a letra de garrancho ou a gagueira no momento de ansiedade. Gostar é pouco, é rápido, é só simpatia. Das vezes que busquei um mar profundo em você, só consegui colocar os pés na margem, deixando meu tornozelo enxuto e meus pés tocando pedrinhas pontiagudas. Isso nunca foi suficiente. Talvez, por isso, eu não tenha insistido em suas profundezas e, talvez pela minha timidez em ir fundo você tenha se aberto pouco. Eu só queria te dizer que não gosto desses jogos. Eu nunca sei jogar e, quando faço isso, sem saber, sempre derrubo as peças do tabuleiro.

Eu só queria que você soubesse que eu procurei um sorriso que não desbotasse, um abraço que não me largasse, um gesto macio que me fizesse querer escrever poemas de madrugada e decorar as letras de música que falassem de nós dois. E que, a tardinha, quando o sol viesse se pôr na nossa janela, eu pudesse te buscar para tomar um chá gelado e, segurando suas mãos, dizer que meus compromissos todos seriam você.


Eu só queria que você soubesse que você me devolveu a liberdade. E que você, um dia, me encontrará na fila do cinema sem a menor pretensão de ser seu. De te fazer ser minha. Porque o amor, infelizmente, não aconteceu pra nós.