- Lembra que, no começo, você fazia de tudo pra me dar uma surra?
- Ô se lembro. Cara, você vivia em cima da Norminha, minha paixão da quinta série. Eu queria mesmo era que você se danasse.
- Azar o nosso ela não ter escolhido nenhum de nós.
- Não sei. Norminha era muito complicada. Sabe que ela já teve três casamentos?
- Sim, muito complicada. Vou descer.
- Mais uma real, seu pilantra?
- Sorte no jogo implica em azar no amor...
- Você nunca teve sorte em nenhum dos dois.
- Eu tive a Norminha. Você não.
- Isso não tem graça.
- Eu sei.
- Teve graça você pedindo a professora de física em namoro.
- Eu fui o único que tive coragem. Quem não gostaria de ter feito o que eu fiz?
- Quem seria tão louco a tal ponto?
- Ela achou bonitinho.
- Ela disse isso?
- Sim. Disse “Você é tão bonitinho”.
- E você não fez nada?
- Eu não. Ela disse que já tinha namorado.
- Você é um idiota.
- Um idiota. E acabo de bater.
- Putz. Fiquei com o morto todo na mão.
- Cara, aquele seu vizinho ainda é vivo?
- Quem? O Seu Antônio?
- Aquele, dono dos periquitos. A gente pulava o muro da sua casa e caía no quintal dele. Em dois minutos a gente abria todas as gaiolas.
- Pois eu acho que fazíamos muito bem.
- Também acho. Mas na época era só travessura.
- Essas ideias eram sempre suas.
- As boas ideias, você quer dizer. Tudo o que envolvia coisa errada provinha de você.
- Não sou tão certo disso. Deu diferença de 200 pontos. Mais uma partida?
- Só se você confessar.
- O quê?
- Que ainda pensa na Norminha.
- Pois eu vou confessar é outra coisa.
- Diga.
- Tive a Norminha primeiro que você.
- Mentira.
- Verdade.
- Ela era linda, não era?
- Eu prefiro a professora. E você, dê as cartas.
- Preciso ir ao banheiro, antes.
- Pega mais amendoim, no armário.
- Pego é você pela orelha, mais tarde.
- Ih, ficou com ciúmes.
- Bem capaz...
- Sempre teve.
- Você tá merecendo uma surra agora.
- Quem sabe você não me ajuda a satisfazer aquela minha velha vontade da quinta série de te quebrar ao meio?
- Só se você sair vivo.
- Ok. Vou dando o morto. Anda logo no banheiro.
Dia 23 de janeiro o blog completou dois anos de história! Agradeço a todos
os que participaram, comigo, desse mundo de sofismas!