sábado, 18 de janeiro de 2014

Chama

O chão não mais samba
O são não mais sente
Nem só não mais rir-se
Nem o rio não mais se insinua
Des’ que o tempo parou atrasado
Secou-se o céu azul metálico
E acizentaram-se as sequoias.
Pois chamem as ordálias!
Costurem-se as chagas!
Chova-se na palma da alma enlameada
Para que o presságio se esvaia
Para que o sol de novo se ascenda
Para que o brilho se dissolva no rosto
E os passos,
Que rompem no reto espaço,
Clamem pelo amor: esse chiado do peito silente
Essa chama que sibila na sombra ardente
E deixa o suplício clemente:
Anestesia-me, ó, seringa da mortalha
(que a dor não é boa de doer).


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Pleito

Predigo prazer perpétuo
Ao meu peito profano
Que procura espeque no teu passo.
Prevejo um presente polido
Reluzente como peça de porcelana persa
Que reproduz tua pele ao premeditar do por do sol.
Pressinto meu passado 
Permeando teu pensamento
Este que, pendurado feito pingente 
No teu pescoço plácido,
Prende minha pálpebra 
Como um pressentimento passageiro.
Pernoito teus profundos pântanos
Teus passivos prantos
Teus prediletos poemas
Pergunto se posso, talvez um dia,
Publicizar o meu pleito:
Que cada pedaço meu te sirva de leito
Que cada amor eleito te aponte meu peito
Preciso ser teu primeiro. Tua parte inteira.
Teu prenúncio. Teu mais sincero amor.