domingo, 3 de janeiro de 2016

Cê vai chegar

Cê vai chegar aqui em casa
E vai me ver todo desajeitado
Tocando um bandolim de três cordas
E recitando uma poesia de Manoel

Cê vai me pegar acanhado
Me olhar improvisado 
Daquele jeito que só ocê costuma olhar

Eu vou fazer estripulia com minha cartola
Te tirar pra dançar no meio da roda
Como se ninguém nunca mais fosse tirar

Cê vai ficar extasiada e, em solfejo exagerado
Me lavar com água e sal
Depois, com todos os santos nos olhando
E os arcanjos suspirando
Vestirei minhas botas carmim

Cê vai me olhar elegante na minha realeza
E nossos serviçais colocarão a mesa
Nós dois, sentados em espaldar reto
Nos olharemos como quem dita ou quer ditar

Cê vai querer pegar minha mão 
E vai encontrar minha poeira se estendendo até o teto
Vai notar que meu sentimento é todo ali
Todo aqui, todo lugar

Que co'cê do lado, fiz foi perder a hora
Nem sei mais o que é demora
Que se eu pedisse uma coisa pra Deus, menina
Eu ia querer uma redinha pra eu co'cê dormir