Paulo era daqueles amigos que a gente sempre quer ter por perto nas horas de confusão. Mais de um metro e noventa, musculatura desenvolvida, só de olhar dava medo. Ninguém o enfrentava. No entanto, como todo bom valente, Paulo tinha seu ponto fraco. Morria de medo de cachorros. Ele tentava explicar, dizendo ser trauma de infância, mas não dava pra levar a sério quando ele atravessava a rua para fugir de um poodle.
Num desses dias, depois de algum tempo trabalhando como oficial de justiça, foi entregar uma intimação na casa da Dona Vilma. Dona Vilma morava numa casa aos fundos de um quintal grande onde plantava sua horta. E ela tinha um cachorro. Daqueles bem barulhentos que latia só pra pirraçar.
Paulo foi chegando, abriu o portão que sempre ficava aberto e entrou pelo quintal. Ele não sabia do cachorro. Procurava campainha ou um jeito de chamar lá no fundo, mas não viu outro jeito que não fosse caminhar até a casa.
Pra sua surpresa, saiu o Totó lá de dentro. Latia e avançava num espírito heróico que desbancou o pobre Paulo. O oficial de um metro e noventa viu-se encurralado e, mais do que depressa, pulou para cima da árvore mais próxima. Ficou lá enquanto o cachorro continuava em seu ruído infernal.
Dona Vilma apareceu. Veio arrastando os chinelinhos, chamando o Totó que queria saber só de fazer barulho. Chegou perto da árvore, carregou o cachorro no colo e olhou pra cima. Paulo tremia e mantinha os olhos fechados (assim que ele evitava sentir mais medo).
- Ei, seu moço! Pode descer. Ele não morde, só faz barulho. – contou a velhinha rindo da situação.
- A senhora tem certeza? – insistiu Paulo.
- Absoluta. Não tem nem dentes pra morder.
Mas Paulo não desceu. Dona Vilma teve que prender o Totó dentro da casa para, só então, poder receber a intimação. Quando ela voltou para perto da árvore, deu com Paulo estirado no chão, gritando de dor.
- O que foi, seu moço? – ela perguntou, preocupada.
Havia uma colméia na árvore. Uma das abelhas havia ferroado o oficial que agora gemia de dor.
- Jesus, Maria, José! – gritou a velhinha ao ver a colméia. – Vamos pra dentro de casa, eu tenho um remedinho pra você passar no machucado.
E lá se foi a velhinha ajudando o Paulo a caminhar até a casa. Abriu a porta e o Totó apareceu, pulando e latindo. O oficial tentou se esconder atrás da velhinha. Já até foi esquecendo a dor da ferroada. Mas não adiantou. O Totó cravou os dentes na canela do moço. E foi um tal de velhinha apavorada, oficial desmaiando, um pampeiro.
Depois, já sentado no sofá da sala, enquanto Dona Vilma fazia um curativo no machucado, Paulo resolveu confrontar a velhinha:
- A senhora disse que ele não mordia, Dona Vilma.
- Sempre tem uma primeira vez, seu moço. Sempre tem. - respondeu ela com a cara mais lavada do mundo.
30 comentários:
Gostei da HISTÓRIA sensacional.
Cada um de nós temos um medo é o que eu percebo na vida jovem.
Um abraço e um bom final de semana,
Cara, essa história de "ah não morde" é complicado. Conta outra né. Prefiro não arriscar.
Vai que numa desses, da mesma forma como aconteceu com Paulo, aconteça comigo. kkkkk
Por isso fico longe de cachorro rsrs
Grande abraço
;)
aiuheuiheiheaiea
TODOS temos nossos pontos fracos!
Amei essa historia!
Beijos!
se ele ja tinha medo de cachorro antes imagina agora...hahaa
bjux
Olá pessoa
Eita tadinho do cara..todo mundo fala isso né..morde não...confia mesmo nos instintos irracionais...rsrs
Meu bem, me linka?!
Estou de volta colocando a ordem na casa
bjs mil
Todo dono de cachorro gosta de falar isso, quando alguém fica com medo, dizendo que seu cachorro não morde e você alí dando sempre para trás vendo aquela boca cheia de dentes.Um abraço,Armando fetichedecinefilo.blogspot.com lygiaprudente.blogspot.com
Hahaha. Demais, Filipe.
Poderias muito bem escrever crônicas em algum jornal, sei que fariam sucesso (faço comunicação-jornalismo). A linguagem simples, a narrativa bem desenvolvida, a história não muito longa que prende o leitor do incício ao fim mantendo-o com prazer em ler, o tom irônico e divertido: tudo isso faz dos teus escritos excelentes leituras para qualquer um, mesmo que não esteja acostumada a ler.
Parabéns, outra vez.
Abraço.
(e obrigado de verdade pelo carinho, atenção, compreensão e consideração que sempre tiveste comigo)
haha! filipe, muito bom ver que vc consegue passear bem por diversos estilos de crônicas! Gostei mto :)
e apóio vc a ver o fabuloso destino de amélie poulain! ele tem um toque mto especial, acho que vc vai gostar. me conta qdo vc conseguir vê-lo!
bjão! :*
esqueci de dizer que azul marinho provavelmente é minha cor favorita :)
Ah, querido, esses totós são como certas pessoas, não? A gente vai pensando que não mordem até que zás! E ah, como dói...
Beijos!
Filipe,
Adoro esses seus contos cotidianos que são impossíveis de não assimilar com qualquer segundo ai das nossas vidas.
Esse me lembrou um dia pra trás, quando eu era uma pequetita. A Dona também disse que o cachorro só fazia barulho, e eu fui toda pra brincar com ele até que o bendito avançou em mim. Deu tempo da minha mãe me pegar no colo numa fração de segundos e ai o cahorro pegou foi a perna dela. Mãe-heroína em toda plenitude da palavra. Tadinha, diz ela que dói um bocado.
Esses cachorros que só fazem barulho são um problema, porque um dia a primeira vez acontece e eles mordem mesmo... =)
Adorei comentário da Flavinha ai em cima. Assino embaixo, Flavinha. =)
Beeijos!
Grande Filipe, venho aqui pra te convidar a conhecer a história da Pequena Sunshine. Passa lá no blog pra conferir.
Ficaria honrado com a sua presença.
No mais, boa semana pra tu.
Se cuida ae fera.
Grande abraço.
Hey Felipe, bem?
Adorei o conto, muito bom mesmo.
voltarei aqui tantas outras vezes também, gostei desse lugar. ;]
Obrigada pela visita e pelo comentário. Adorei =)
Claro, não precisa mesmo relatar.
Beijos e até a próxima.
há.
aposta. troca 'Paulo' por 'lua' e 'bombado' por 'machinha'.
eis a história da minha vida. (:
sempre uma delícia te ler.
ps. veínha fêla da pôta.
hahaha, muito bom Filipe!
Sabe, se fosse eu já ficaria apavorada com as abelhas, M-O-R-R-O de medo, sabia? O único bicho que me dá total aversão...
Gostei, super divertido e envolvente.
E quanto a dona do cão, percebi o tom irônico quando ela diz que para tudo há uma primeira vez. Para quantos será que ela já disse isso?rs
Um beijo!
"...sempre há uma primeira vez..."Então comentarei. Sempre leio teus textos. Excelente. Sem muitas palavras. O talento se mostra por si.
Abraços.
Seus contos são muito muito bons. Estou linkando seu blog lá no fio pra não perder teu escrito de vista.
abraço
AUHUAA XD
Velhotinha marvada! :P
adorei o post ^^
falooowz cara, continue o bom trabalho
Opa, deixei um selo para o Mundo de sofisma de presente lá no Fio.
abraço
Kkkkk
Sempre tem uma primeira vez foi ótima
Muito boa sua narrativa cômica!
Linkei você, para te acompanhar.
Um beijo
http://humanidades-e-afins.blogspot.com/
Tadinho do seu Paulo, logo com ele o cachorro foi dar a primeira mordida.
Talvez aquela história de que o cachorro sente o medo seja verdadeira.
Oi Filipe! Vim espiar o blog que ganhou selinho da Vanessa. E aprovei na hora!
Adorei a história do cachorro. Já imaginei o tal do Paulo tremendo de medo. Também já ouvi história parecida de um caipira que dizia pro seu cumpadre que podia atravessar a cerca, pois o boi não "pegava". Imagina no que deu! hehe...
Ótimo dia pra vc!
rsrs, adoro teus contos, fascinam o meu dia. Um bjo.
Felipe, eu sou a fersão feminina do Paulo com 30 centímetros a menos.
Hehehe.
Me vi nesse texto.
ah que eu estava com uma saudade de ler tu por aqui Filipe!! Não feche essa casa de novo! E coitado do Paulo hahahahaha
Oi Filipe!
Já virei seguidora heim. Vai ter que me agüentar aqui sempre :)
Vc será sempre bem-vindo pra me visitar!
Abração!
ahauhauhauhauha
Sem comentários! Chantagem? Comigo não rola rs.
Beijos
Que medo quase todos os donos de cahorros fala que não morde
tenho muito dedo de cachorroooooo
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