quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Indomesticáveis



A luz apagada e o armário abarrotado de medos. Medos antigos já empoeirados. Medos novos também. Cada vez que se abre uma porta vem aquela dúvida persistente: “Qual eu vou levar hoje?”. São todos cinzas, birrentos, ciumentos. Querem ocupar espaço, sair, expandir pra onde bem entenderem. São cheios de si. Há quem goste, porém, de colecioná-los. Esquisitice é algo que ronda o ser humano. Alguns chegam, assim, devagarzinho. Vêm trazendo qualquer aspecto de bondade, tem uns que até riem no primeiro contato. E trazem um friozinho inquietante na barriga, um suor no canto da testa e um tremor nas mãos. Conseguindo terreno, vão fazendo morada. Escolhem um cabide e já vão se pendurando, se entendendo com os outros que também habitam ali. Fazem jogos, forjam conflitos, criam situações que perturbam a mente. São rivais, vilões e, na maioria das vezes, nos vendam os olhos para impedir a visão lateral. Vivem nas sombras, são sutis e impertinentes. Viram e reviram, dão cambalhotas e soltam foguetes que explodem em lágrimas. O medo faz chorar. Diante da aflição, resta o desejo de libertação, a consciência dos grilhões que eles trazem consigo, resta a iniciativa de acender a luz. Diante do clarão, eles se aquietam e recuam. São covardes. Mas não perdem a iniciativa e a gula. São indomesticáveis animais de estimação.

17 comentários:

Ana disse...

Deixe-os trancados dentro do armário... Os medos só aparecem se abrirmos as portas...
Lindo, Filipe!
Beijo,
Ana

Fabi disse...

Depois de ler esse texto confesso: tenho meus medos de estimação, acredito q todos temos, mesmo q não confessemos

brunakonrath disse...

Oie!
Bah, quanto tempo sem aparecer...
Que vergonha...
Tá, agora vou aparecer mais vezes.

Muito bom ler isso!!!! Ainda mais no meio da semana, assim...
Muito bem quando o clarão cala os medos, e deixa-os "covardes".
Porém o melhor é limpar o armário a cada troca de estação... Jogando luz pra dentro dele, fazendo com que alguns fujam! =D

Até mais!
Bjus mil...

l u a * disse...

chama medo, o ar que eu respiro.


- só não se esqueça que cinza também é cor.

Luifel disse...

Caramba! Velho, seu texto sobre os medos realmente fico surreal!

Realmente nos fazemos coleção dos nossos medos e o pior de tudo é q temos o antidoto contra eles,[a coragem], mas parece que temos estima, q são realmente animais de estimação eles...

Abção!

Camila :) disse...

eu to pra baixoo e leio isso
fikei felizz admitoo mas bem triste tbm ahuhuahuauh
:*

Flá. disse...

olha!
adorei a metáfora, filipe :)
bom resto de semana pra vc
bjos! ;*

Chellot disse...

Os medos que vivem em meu armário eu prefiro que fiquem lá. Talvez um dia eu os enfrente.
Belo texto.

Beijos de sonhos.

Anônimo disse...

Quantos "medos" nós criamos e alimentamos? Com o tempo eles crescem e se tornam "muletas", com as quais nos acostumamos e achamos que "vivemos", mas enquanto não clarearmos toda sala e expulsarmos dali "medo" por "medo" não andaremos livres e não saberemos o que viver. Não sairemos da ilusão e não saberemos o que é a realidade.

Te vi em um "tempo tripé" e adorei teu "mundo".

Parabéns pelo blog!

nina disse...

To dando uma limpa no meu armario de medos. Quero arriscar muita coisa. Nao da pra viver sem arriscar.

Anônimo disse...

animais??

eu já tava imaginando outras coisas...

Araúja Kodomo disse...

Adorei :)
Que final...!
***

I.P. Araújo disse...

Amei!
Mas não guarde seus medos, nem mesmo os esconda: jogue tudo o que puder fora. A maioria do que guardamos no nosso armário são coisas inúteis, mesmo. Não dá pra se livrar de todos eles, mas trazer um armário assim, abarrotado, não é saudável.

Anônimo disse...

eu tento me livrar dos medos + nem sempre funciona.. esconder é o q mais faço..;


ate+

Jaya Magalhães disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alessandra Castro disse...

Sim, eles se alimentam da nossa teimosia.

Bárbara M.P. disse...

Vendo-os de dentro de seu armário pareceram - me não ser tão indigestos assim.
Então você também mostra certas coisas de maneira rica, menino.

Obrigada.