As geladeiras sempre me meteram medo. Na minha mente de criança, as geladeiras eram objetos trazidos por disco voadores e fabricados por extraterrestres verdes dos dedos compridos. Toda noite, depois dos pijamas e dos dentes escovados, a casa mergulhava num silêncio profundo. Os olhinhos já iam ficando pesados e o medo do escuro já ia saindo discretamente quando um barulho de motor soava no meio da paz. E o coração fazia estripulia, uma corrente de ar gelado percorria rapidamente o corpo, trazendo o susto pra perto do travesseiro. A geladeira ficava zunindo, cantando sua música motorizada, levando meu sono embora. Eu acreditava que aqueles barulhos eram formas de comunicação com os extraterrestres. As geladeiras contavam a seus superiores sobre o dia-a-dia da família do lar onde viviam para que, durante a madrugada, os verdinhos de dedos longos viessem abduzir as crianças e roubar-lhes os órgãos. Diante desse quadro assustador que pintava em minha mente, eu juntava coragem e corria até o quarto dos meus pais. Ali, na cama deles, bem no meio, meu sossego retornava.
Durante o dia, quando eu queria buscar alguma coisa para comer, pedia à Maria que abrisse a geladeira. Aquela luz que saía de dentro me lembrava qualquer tipo primitivo de flash. Certamente, os verdinhos estariam providenciando uma foto para analisarem minha boa aparência e requisitarem meus órgãos. E Maria nunca soube que, na verdade, não era preguiça que eu tinha, era medo.
Certa vez, a geladeira pifou. Foi minha alegria. Sinal de que meu território não seria mais ameaçado. No meio da tarde, porém, surgiram dois homens de macacão verde que se debruçaram sobre o aparelho, fazendo-o ruir novamente. Tamanho foi o meu espanto ao saber que não eram bichinhos verdes com dedos longos, eles se fantasiavam de humanos, eram mais espertos do que eu pensava.
Mas a convivência foi facilitando tudo. Acostumei-me com a idéia de ter um objeto de outra galáxia dentro de minha casa e cansei de esperar pelo dia da abdução. Finalmente, meu sono e minha paz foram devolvidos. O barulho do motor não parecia tão assustador, a musiquinha era até boa. E eu me senti convencido de que eu não era mais uma criança medrosa. ETs? Isso nem existe, bobeira.
No entanto, quando eu estava no auge da minha coragem, em plenas condições psíquicas de rir do antigo medo que agora acometia meus primos menores, minha mãe apareceu com um aspirador de pó.
E o meu tormento voltou quando entendi que meus órgãos seriam todos sugados por aquela imensa mangueira.
20 comentários:
Filipe,
Que história gostosa de ler. Fiquei aqui me alimentando das suas palavras e entrando na história fácil, fácil.
Lembrei de tempos meus de falta de sono por medo, e por vontades de dormir bem no meio de pai e mãe. Tão bom! Meu medo era de uma estante que tinha na sala da minha casa, que fazia barulhos a noite, abrindo e fechando uma das portas, e que só eu escutava. Sossego meu só veio mesmo quando ela foi aposentada e compramos outra! =)Depois conto pra você história na íntegra! =)
p.s.: Obrigada pela visita no meu canto. Volta sempre, porque gosto demais.
Beijo!
...kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
desculpe-me...
kkkkkkkkkkkkkkkkk
viajei nesta história macabra
e geladaaaaaaaaaaaaaaaa!!! rssss
...aimeudeusdocéu!
bjs
Este blog é excelente. A leitura é sempre envolvente e prazerosa. Ótimo!
Como é bom encontrar um lugarzinho para visitar... parada obrigatória!
Beijos!
Opa, caí aqui por acaso, através da Nathália. Seu texto é muito bom. Como a produção é abundante por aqui , voltarei mais vezes e lerei o tanto que me falta.
Abraço.
uahuahuahua mto bommm!
'clap clap clap' (som de palmas, ouve? ^^ eu e minhas bobeiras)
adorei filipeee :DD
e dei uma sumida né..pode deixar que ponho a leitura em dia aqui no seu blog.
bjo! boa semana ;*
Que história sensacional Filipe. Tu tem uma maestria enorme em nos proporcionar textos tão belos.
Achei bem leve e tão surreal, que quase me vi ontem, na minha infância acreditando nessas coisas. Certas coisas que depois que a gente descobre o real significado, acaba achando graça.
Belo texto.
;)
Boa semana pra tu meu camarada. Que seja uma semana intensa e muito linda.
Abraços. E vê se apareçe.
haha
hahaha
paranóias de crianças, nem tenho coragem de contar, são tantas coisas. O saudade...
rs
abs cara!
Uhuu!!
A Revolta dos Eletrodomésticos!!!
=]
Adorei.
Beijo!
hahahha
muito bom.
"O Fantástico Mundo de BOB"
Tinha um desenho assim, nao tinha?
abraço
Felipe, você escreve sobre temas diferentes que nunca pensei! Outro dia escrevi sobre unhas e meus amigos acharam super criativo, imagine se eles lerem este post sobre geladeiras?! Vou falar com eles!
Beijos
Ah, esqueci de dizer... sempre gostei de geladeiras! Ainda mais a lá de casa que era grandeeeee e repleta de coisas boas! =D
Beijo de novo!
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!
Filipe você escreve cada uma....
Adorei.
eita, muito bom o escrito, viu?! Me peguei rindo, e rindo também de mim, q vez ou outra ainda me assusto com o som intergalático q a minha geladeira anda fazendo... hehehe
Imaginação, a fonte primordial do artista e da criança! Tudo uma coisa só... =)
hahaha fez-me rir, recordando meus medos de criança!
Parabéns.
Beijo
Lu
http://humanidades-e-afins.blogspot.com
Por onde tu andas meu amigo?
Espero que você esteja bem.
Grande abraço e uma boa semana.
;)
hahahahahahhahahaha
adorei. ;)
eu, em pequena, tinha certeza que tinham bichos que ficavam dentro das paredes, e estalavam a noite. solução: não importando o calor que fizesse, dormir com a cabeça coberta com o edredon, pra me salvar.
(eu, adorava ter medo infantil.!)
É errado achar um medo hilário? Eu achei! :D
Filipe!!!!
eu adorei!! Me diverti... e me identifiquei, me identifiquei qdo me percebi rindo dos medos.
Adorei demais demais!!!
=D
Fico contente em saber que a geladeira já assustou o universo de outro alguém. Porém, confesso, com certo rubor no rosto, que o ronco dela ainda me faz assustar em meio ao silêncio da noite.
Parabéns e continue "sofismando" sempre!
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