A mãe bateu três vezes na porta do quarto. Não obteve resposta. Preocupada, gritou o nome do filho. Como não havia sinal algum, resolveu girar a maçaneta e entrar, mesmo sabendo que o menino não gostava disso.
Entrou e sua boca fez um grande ó, tamanho espanto. Beliscou-se para ver se não era um sonho ou se não estava delirando. Bem que o médico estava suspeitando de alguma neurose. Voltou à sala e foi chamar o marido que lia atentamente o jornal.
- Deixa de ser louca, mulher. – disse o marido sem desviar a atenção da leitura.
De tanta insistência, o marido concordou em ir ao quarto do filho e ver com os próprios olhos o absurdo contado pela mulher. Sempre fora um homem cético e só acreditava se apalpasse a realidade. Racional até demais. Entrou no quarto do filho e espantou-se. Um frio gélido percorreu-lhe a espinha.
- Eu falei pra você. – chorava a mulher, copiosamente.
O rapaz que, durante todo o tempo, esteve dentro do quarto, não desviou sua atenção da tela do computador. O pai se aproximou e soltou um grunhido.
- Meu filho!
O rapaz se voltou para o pai e deixou escapar um sorriso de contentamento. Disse ao casal que, desde pequeno, descobriu-se. Nunca tivera coragem de contar aos pais e, por isso, manteve seu segredo por quatro ou cinco anos. Pediu perdão, falou que sabia da preocupação deles e não os queria aborrecidos.
- Mas meu filho. – começou a mãe. – Nós criamos você com todos os mimos. Como pode ter feito isso conosco?
- Eu não fiz nada, mãe. Foi uma grande surpresa pra mim também. – explicou o menino em sua calma invejável.
- Você morrerá de fome. – lamentou o pai.
- E passará a vida frustrado, almejando o sucesso que não veio. – completou a mãe.
- E, se vier o sucesso, perderá todas as suas virtudes, meu filho. Porque o homem, quanto reconhecido, tende a se inclinar pras vaidades. – continuou o pai.
E saíram do quarto, marido e mulher. Foram abraçados, com o semblante entornado de tristeza. De repente, o marido se voltou para a esposa e confessou-lhe ao pé do ouvido:
- Sabe de uma coisa? Eu, assim como ele, também sempre quis ser escritor.
29 comentários:
durante o texto eu pensei:
" o garoto tá possuido"
não..."o garoto é gay..."
"ah não.. ele queria ser ator"
E ele queria ser escritor...
gostei!!!!
beijoss
gostei desse texto...
achei q ele tava morto ou sei la o.. .ahuahs
beijos
Sabia que eu já passei por isso? Assim mesmo... mas meus pais não queriam ser escritores. Ainda assim, aceitaram negociar comigo, rs.
Beijos!!
" o garoto tá possuido"
não..."o garoto é gay..."
"ah não.. ele queria ser ator" (2)
Surpreendente mesmo.
Idem. Minha maior ambiçao é a mesma desse guri.
também imaginei algo do tipo "o exorcista"
=]
um beijo!
Fantástico! E eis que a claque aplaude!
Oh... agora que fui ver que meu comentario realmente nao chegou aqui! =/
Hum... gostei mto!!
Acho que quero ser escritora tb!rs É que adorei esse espanto!hehehehehe...
Bjim =D
Filipe,
Pensamentos me levaram pra vários lugares e situações imaginando o que aconteceria no seu final. E acabei descobrindo que texto seu não tem final, porque é quando a gente escreve que a viagem começa. E a gente pode ser quem quiser. E a gente pode ir pra qualquer lugar. E viver as coisas mais simples e belas da vida.
Seu texto fez mágica em mim. Nada mais a dizer a não ser que ele é de uma simplicidade e sensibilidade tremenda. Lindo! Lindo!
Beijo meu!
e não são todos que tem essa coragem não é mesmo!
estou com Leminsk e ponto.
pronto!
-
cheiro pra você.
" o garoto tá possuido"
não..."o garoto é gay..."
"ah não.. ele queria ser ator" (2)
bejooo
Nu!
Pensei cada coisa... também pensei que ele queria ser artista! E acertei, pois escritor é quem dá vida a personagens!
Adorei.
Beijos
juro que primeiro pensei: Morreu!
depois: é gay!
kkkkkkkkk mt bom ;)
interessante.
gostei do final!
=)
aii aiii.. os tais poetas!
Gostei demais!!! E essa dubiedade para o desfecho foi incrível. Lembrei de um conto do Caio Fernando Abreu, onde o personagem principal não abria a porta de jeito algum e, no final, virava borboleta e voava pela janela. Talvez não seja um texto autobiográfico... mas que você é um magnífico escritor... disso não guardo dúvidas!! Parabéns, amigo. Ótima semana.
Pensa-se tanta coisa durante a leitura e afinal o desfecho é inesperado.
http://desabafos-solitarios.blogspot.com/
Gente, nunca vi tanto suspense...rs.
Queria logo pular para o final.
Muito bom.
=)
Adorei!
Que vontade de chegar ao fim mais rápido!!!
***
Eu fiquei imaginando qual teria sido o espanto da mãe e o pai, até que li "sentado em frente ao computador."
Depois do "você morrerá de fome" tive certeza do que se tratava. Enfim, essa realidade ainda é bem real por aqui.
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Filipe, como você anda meio sumido lá nas bandas do meu blog, vim te avisar que mudei a url (agora é carmelitando.blogspot.com) e o título (agora é Carmelita).
beijo.
Oi Filipe,
como sempre vc me surpreende e encanta com o seu jeito de esculpir textos com as mais belas palavras.
Adorei...durante a leitura fiquei anciosa para ler o fim. Realmente envolvente e chamativo.
Bjo grande!
Caramba cara, muito bom o texto. Eu pensei uma porrada de coisas sobre o garoto, mas assim como o Caicko lembrei do conto do Caio F, que por sinal é dos meus prediletos
Eu jurava q no fim ia ter algum bilhete do garoto dizendo q tinha saido pelo mundo pra um ano sabático,sei lá...
Abção!
Você não morrerá de fome, não vai ser frustrado, vai alcançar o sucesso que almejar e quando alcançar, continuará preservando todas as suas virtudes, pois tenho certeza que será um grande escritor!
Aliás, não será, JÁ É!
Nossa... Demais!!!
Final surpreendente, porém não poderia ser melhor!!!!
Ain que lindo, tipow, eu ia morrar de orgulho por um filho escritor.
A Sociedade dos Poetas Mortos. Foi do que me lembrei.
Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu
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