domingo, 30 de março de 2008

O pranto dos anjos


Dentro dos teus olhos maltratados eu enxergo muito mais do que sofrimento. E tu és ainda uma criança que crê em conto de fadas. Parece até que habita uma mulher aí dentro do teu corpo sofrido. Não fique me jogando esse silêncio obeso nas costas, não me faça sentir mais culpado em ver-te assim com essa alma quase saindo pela boca e esse sorriso extinto, caído no chão.

Dentro dos teus olhos, vejo toda a crueldade do mundo. Não falo apenas dessa fome que tu carregas no estômago e escorre na pele mostrando seus ossos finos e frágeis demais. Falo desse pouco caso com as crianças feito tu; desses homens grandes que gastam com guerras e aplicações na bolsa de valores. E desses homens médios que vão ao shopping comprar tênis da moda e uma TV de plasma. Teus olhos imploram por um prato de comida, não é? A sua casa tem banheiro e água encanada? Porque esse cheiro que sai de ti não é teu odor, pequena. É o perfume que todos nós respiramos todos os dias, mas já estamos acostumados.

E quando olho-te pela última vez, percebo as outras crianças que choram contigo. Essas crianças exploradas em sua ingenuidade e inocência. Todas vocês têm olhos que sangram e corpo abatido, alma perturbada. Estão sem esperança, mas ainda assim sonham com o Papai Noel trazendo brinquedo dentro do saco vermelho.

Vem deitar aqui no meu colo, toma tua boneca. Teu lugar é nas nuvens ao lado dos anjos, pequena. Teu lugar não é nessas estradas de perdição. Vem aqui, vou te contar uma história. Vê se dorme um pouco pra esquecer teus pesadelos reais. A vida nos sonhos é mais bonita. Tu és bonita, pequena...

15 comentários:

Araúja Kodomo disse...

Belíssimo!
:)
***

lucas rolim disse...

muito bom
abçs

Anônimo disse...

Nossa, Filipe...
Estou sem palavras. Não sei, sinceramente o que dizer. Qualquer coisa será pouco perto do que estou sentindo agora.
Deixo-te com meu pensamento: ...

Beijos.

Unknown disse...

"... ou então felicidade é brinquedo que não tem".

Anônimo disse...

Felipe, onde você busca inspiração?

Pâmela S. Melo disse...

As minhas lágrimas te entenderam tão bem.

Marina Mah disse...

Filipe, que lindo!
Quanta suavidade para relatar uma realidade tão cruel!
Faz despertar...
Muito bom!

beijo

Luciana Raskolnikov disse...

... lindo...
dura realidade retratata com poesia...
parabéns Filipe...

ps*comente o ultimo texto do blog http://banzooo.blogspot.com/
ficarei feliz em ter um post seu lá...

nj.marabuto disse...

junto tuas palavras às do rafael aí em cima... (belo adendo!!!)


e as sinto de forma integral em uma pessoa que amo igualmente. e, então, parece que só me restam as reticências cada vez mais obesas de silêncio, ponto a ponto ·◦○


abraço!

Camilinha disse...

aff...
fiquei com dor no estômago agora... sabe, daquelas quando a gente leva uma bronca sabendo exatamente o motivo dela?

muito lindo mesmo...

beijos daqui...

Chellot disse...

Sensível a forma como escreves. "O pranto dos anjos" costuma não emocionar ninguém quando sua visão real mostra sua face molhada a cada canto das cidades, mas ainda há aqueles que desejam tomá-los no colo e niná-los.

Beijos desejosos.

alex e! disse...

...olá, Filipe. Peço licença a ti pra entrar nesse teu mundo de sofisma - paradoxalmente, tão verdadeiro... é a primeira vez que venho aqui, no teu cantinho, mas me lembro muito bem de ti de um texto que eu li no blog da querida Jaya, e pelo qual fiquei bastante impressionado. Quanto ao pranto dos anjos que cê derramou por aqui, devo dizer que a aparente suavidade com que o texto vai sendo construído não desfaz a impressão amarga que fica ao final: será mesmo, Filipe, que há alguma estória nalguma nuvem desse mundo capaz de aplacar a realidade cruel desses anjos fadados à queda? Assim como você, eu quero acreditar que sim, massss...
PS: e obrigado pelas palavras gentis lá no blog...

Stella disse...

Olha eu aqui... demorei... bastante... mas vim ver as palavras do rapaz que escreveu um belo texto em conjunto com uma amiga que temos em comum...

Quanto aos elefantes, eu seria como eles por jamais esquecer das coisas... e das pessoas. Sou lenta como eles, mas a memória jamais apaga o que viu, ouviu e leu...

Assim, cá estou eu gravando este texto na mente, percebendo a tristeza das palavras mas também a esperança tentando mudar a realidade. Eu bem queria poder abarcar com meus braços cada delicado e indefeso anjo que encontro pela cidade. Eles são muitos... meus braços, apenas dois.

...Mas não os esqueço e, quem sabe, um dia ao menos um tocante texto como este seu, Filipe, eu escreverei para lembrá-los...

Volte sempre ao Dominus, será um prazer recebê-lo!


Um abraço, Filipe...

Fernando Locke disse...

O pranto dos anjos! não teria título melhor. crianças chorando são pequenos anjos, inocentes, jovens, com bondade e força na alma, sem jamais perder a esperança. Parafraseio Renato Russo ao dizer "Quem roubou nossa coragem?". abraço!

Jaya Magalhães disse...
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