quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Quando você ficou grávida de mim


Eu já disse que acho feias demais essas suas unhas pintadas de vermelho? Quando olho pra você, me pego lembrando de alguma prostituta parisiense. Não, nunca fui a Paris, mas eu imagino. É como quando se diz: “Que cheiro de alfinete ensaboado!”; não que se tenha cheirado, mas é possível assimilar o cheiro disso com o cheiro daquilo. Do que está rindo? Sabe que eu me atrapalho sempre com as palavras. Sempre foi. Ainda mais quando você me olha com esses dentes impregnados de um convite amoroso. Eu não gosto das unhas, mas dos dentes, sim. Principalmente essa frestinha entre os dois da frente. Diastema, o nome disso? OK, adoro seu diastema! Porque me parece uma porta entreaberta onde eu posso entrar a qualquer momento. Não estou falando de beijo, estou falando das maluquices que se passam na minha cabeça. Me diga: você nunca pensou em se jogar de uma cachoeira? Qual o quê, suicídio. Nunca pensaria em me matar. (...) Eu pensei agora, foi horrível.


Essa blusa sua. Eu lhe dei no seu aniversário de dezoito anos. Jurei que você nunca usaria. Eu queria mesmo era ver até onde ia sua paixão por mim. Até que você a usou bastante. Foi no show dos Tribalistas com ela, eu lembro. Como assim, nunca foi ao show dos Tribalistas? Você se esquece tão depressa. Foi quando você perdeu sua chave de casa. Chegamos do show de madrugada, sua casa toda escura, seus pais lá dentro, achando que você tinha ido na casa da vizinha jogar truco. E passamos a madrugada sentados na beira da porta, vendo estrelas, cantando juntos as canções do espetáculo. De repente, você deitou no meu ombro, me disse que tava grávida. Eu ri. Ri alto; você teve medo de que seus pais acordassem e me beliscou. Grávida! Nem tínhamos transado! E você me explicou que havia algo nascendo dentro de você que vinha de mim. Eu achei a coisa mais linda, isso. Beijei você com tanta força que até perdi o fôlego. Quando o sol nasceu e seu pai abriu a porta, nos pegou adormecidos, um nos braços do outro. Ele brigou. Ah, brigou como se tivéssemos feito dez filhos ao mesmo tempo. E eu ri sozinho, imaginando qual seria a reação dele se tivesse ouvido você me dizer que estava grávida.


Quer saber? Não muda a cor das unhas, não. Elas me trazem tantas recordações. Nem sei por que. Sempre odiei vermelho. É a cor da sua blusa. Aliás, essa blusa a deixa mais gordinha. Com um aspecto, assim, ligeiramente grávido.


29 comentários:

Luciana Brito disse...

Oi Filipe. =)

Adorei o texto. Sentido bonito na história. Me lembrou Lya Luft em partes.

Beijo. ^^

Flávia disse...

Ai que coisa mais linda!!

Se você tivesse visto a minha cara de sorriso aqui... essa coisa de algo nascendo dentro da gente e vindo do outro... e não é que é assim mesmo quando se ama verdadeiramente? É uma perene gestação de amor, de companheirismo, de felicidade. É um parto diário das alegrias que só são possíveis quando há a doação de um ao outro, um no outro, carne se fazendo espírito e sentimento.

Lindo demais. E me tolhe as palavras. Você me deixa assim, muda e emocionada.

Um beijo :)

Germano Viana Xavier disse...

Grande Filipe,

coisa boa encontrar você pelo ciberespaço. Li o texto e vi que tens um blog sério. Bom sentir uma garota dizendo isso e agindo assim pra gente. Nascendo uma coisa forte.

Que continuemos nossa amizade entre letras e versos, meu caro.

Abraço forte.
Continuemos...

Anônimo disse...

Puta merda!!
Me perdoe pela expressão tão exagerada e deselegante, mas é a que mais demonstra o meu espanto diante da lindeza do teu texto. Pôxa, vida (várias vezes). Que coisa mais linda!

Laysla Fontes disse...

Me emocionei, como na maioria das vezes que venho ler suas coisas!

Eu acho linda a naturalidade que demonstra ter com as palavras, Filipe. Uma intimidade muito bonita! Admiração que não me permite sequer falar propriamente do texto. E sim, da sua escrita, mágica, suave.

Um beijo meu. :)

Anônimo disse...

filipe, já disse que adoro o seu jeito de escrever?
é simplesmente fantástico.
quem iria pensar em usar um exemplo assim?

lihgeiramente grávido.

perfeito.

beijo na testa

Vanessa Anacleto disse...

Ei , que belo texto ! Dá pra pensar em muitas outras histórias.

abraço

Yara Souza disse...

Eu també. Achei a coisa mais linda isso...

C.L. disse...

Que texto mais lindo, doce...
É, doce é a palavra que encontrei para descrevê-lo.

Lindo!

BEijos. E seja bem-vindo também!

Sarah disse...

Nossa Filipe..
Seu texto está incrível..
me lembra Rita Apoema..
Você tem uma sensibilidade incrivel pra lidar com a ironia e o sarcasmo..
Volte sempre ao meu canto..
virei tua fã..mineirinho..rs

Angelos Theou disse...

Nossa Felipe que texto lindo...amei!!
Quanta sensibilidade.

Ah! a porta esta só encostada basta triscar.....

Obgda pela visitinha ao meu mundinho...volte sempre!!!

bjooo

alex e! disse...

...talvez seja o que vale a pena, a única coisa que valha a pena: essa sensação de gravidez que brota de algo bom do outro, como fosse a semente de algo que vai germinar e crescer de uma maneira muito bonita. Saber disso também deve ser muito bom, pois é sinal de que tocamos alguém com o melhor da gente - e com toda a sinceridade que se pode ter. Se isso é amor? Não importa: é um sentimento lindo, de qualquer jeito, com qualquer nome... um grande abraço em ti...

PS: e sim, dói, ah, como dói......

Alessandra Castro disse...

Um lindo, lindo texto, no qual todos podemos nos indentificar.

Marcela disse...

Que coisa linda.. romantismo puro, com certeza!
baci!

Anônimo disse...

Muito bom o texto Filipe, como já tinha dito no chat.
E essa declaração no final :)

Felicidades pra vocês.
Te linkei, blz?
Abraço.

Taty. disse...

=]

Ava disse...

Que contador de histórias!
Que história linda!
Que narrativa perfeita!
Fiquei encantada... voltei e reli...e mais encantada fiquei!

Felipe, tem um Meme pra vc em meu Blog...
Foi meu primeiro...
Como muitas coisas nesse mundo virtual!

Beijos e carinhos!

Lu´S disse...

as unhas vermelhas eu adoro, as palavras também,, mais esse texto me deixou perdida, sem alavras .. me tocou!
parabens...

Sueli Maia (Mai) disse...

Querido, que delícia de se ler.

Juro li tudo, num só gole e sorrindo o texto inteiro. Há momentos em que o texto tira mesmo gargalhada mas é uma festa e é mesmo, uma linda festa.

Maravilha!
Beijos.

Luifel disse...

"Grávida! Nem tínhamos transado!"

Tou rindo! Imaginei o cara falando isso pra moça e caí na risada! Muito bom os textos como sempre!

Abção!

Germano Viana Xavier disse...

Passando e relembrando, Filipe.

Deixo um abraço forte.
Continuemos...

Unknown disse...

Nossa, mas que texto hein! Perdi o fôlego, não dei nem uma piscadela sequer! Adorei tuas palavras, adorei o "Mundo de Sofisma".

Abraços!

www.sonhosamadores.blogspot.com

Anônimo disse...

A gravidez dela se chama esperança. Que filho bonito o que vocês irão ter.
Um abração.

Mafê Probst disse...

Quantas saudades de te ler.

flor disse...

Adoreeei.
Eu sempre pinto as unhas dos pés de vermelho rsrs

Bejoos

Anônimo disse...

Há muito tempo eu não lia um texto assim tão bom,deu pena quando acabou...

Bárbara M.P. disse...

Senti muitas saudades de tudo isso.

Uma pausa nas férias pra te deixar um beijo, querido.

Bárbara

Jaya Magalhães disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Juliana Almirante disse...

Que coisa mais linda!
Lembrou-me do meu primeiro namorado...
Eu deu um susto nele uma vez: mandei uma mensagem para ele dizendo que havia arranjado alguém.
Ele ficou louco!
Daí completei que havia encontrado alguém chamado Saudade.

Muito bom te ler...
abraços