quarta-feira, 5 de março de 2008

Sofá velho

Você quer me escutar? Tudo bem. Entre e fique a vontade. Acabei de fazer café. Quer uma xícara? O sofá é meio velho, mas está limpo. Vou abrir a janela, está calor. A noite está bonita. Tem muitas estrelas. Será que somos assim, que nem as estrelas? Pontinhos soltos num espaço escuro? Daqui eu não reconheço nenhuma delas. Todas são iguais. Mas você, perto de mim, eu reconheço. Se você não estivesse aqui na minha sala, tomando meu café, ouvindo minha conversa fiada, talvez não fosse tão importante pra mim. Está vendo aquela foto em cima da mesa? Era um jardim que existia na fazenda dos meus avós. É um belo jardim, você não acha? Meu avô contava que, certa vez, caiu uma tempestade que nunca se viu igual. No entanto, antes de o jardim ser destruído, as borboletas vieram em grupo e o carregaram. Não me olhe com essa cara. Estou falando de sonhos. Você já deixou seu sonho debaixo de uma tempestade? Espero que da próxima vez você o carregue para outro lugar. Parece que estou falando das coisas que vivo. Mas não sou assim não. Falo coisas, penso muitas outras, vivo tudo errado. Não tente me entender pelo meu sorriso porque nem sempre estarei feliz. Sinto-me louco falando essas coisas. Devo estar chateando você. Quer mais café? Todos parecem grandes, talentosos, inteligentes. Você não se sente assim: perdido no meio de tanta gente? Parece até que não tem espaço pra mim, pras minhas coisas. Todos devem ter um espaço, um lugar de refúgio. Se eu pedir pra você voltar outra hora, você não vai me achar rude demais? É que estou com sono e as idéias ficam fervilhando na minha mente. Quanto a você, volte menos literal. Não consigo ser muito claro e por isso falo de estrelas e borboletas. Talvez você tenha me entendido. Faz-me um favor? Feche a porta quando sair e não deixe os gigantes lá fora entrarem. Aqui é o meu lugar.

A Jaya fez uma resposta para esse texto em DEIXA EU BRINCAR DE SER FELIZ?

27 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, gostei muito do seu texto. Um fluxo de consciência intenso. Os gigantes seriam os medos? No meu caso, acho que sim. Lindo, Filipe! Adorei!

Ah! Já tá corrigido o seu endereço lá no nosso blog, tá?

Beijoca.

Renato Ziggy disse...

Amigão, eu achei fantásticas as suas digressões! Taí um recurso bacana que eu ainda não experimentei. Você, sem dúvidas, se saiu muito bem e, ainda que os "focos" mudassem, havia algo por trás do que você falava, existia um chão frágil, volátil. Que bom que você postou novamente! Abrazzo e saudade!

Alberto Vieira disse...

oi Filipe! Mto bom!
Gostei mto da parte:
as borboletas vieram em grupo e o carregaram.

Temos que deixar as borboletar carregarem nossos jardins antes das tempesdades.

abração

Unknown disse...

Obrigadíssimo pelo comentário no meu post sobre a conversa! Hahaha...

Bem, esses gigantes que nos atormentam, é um saco! Acho que as borboletas estão em tranformação. Mudando de opiniões a cada segundo. As caras nunca podem ser as mesmas caras de sempre. Sei lá, é tudo tão fácil de entender, e ao mesmo tempo, tudo tão difícil!

Ainda assim, prefiro tentar entender porque há toda essa cratera no eu-lírico de nós escritores e poetas.

Abraço!

=]

Anônimo disse...

Gigantes. Eu também me sinto perdida no meio deles. Penso algumas vezes, em me isolar completamente, já que me machuco tão facilmente com a convivência. Gosto de ter o MEU espaço, o meu cantinho. Meu e de mais ninguém, fechado para visitação.

Só uma dica: "Não tente entender, viver ultrapassa todo o entendimento."

Macel Guimarães disse...

Admiro muito essa facilidade que o Filipe tem em colocar nas palavras aquilo que realmente ele é. Em "qualquer" conversa que tenho com ele, percebo esse tipo de sensibilidade com aquilo que realmente o move e o inquieta...

Bárbara Matias disse...

Sabe o q me lembrei? De sábado passado, num é que ofereci café?!...

vc lembra?

Descreveu-me.. naquele dia... =)

Unknown disse...

Conversa fiada??
no no no..
COnversa afinada...

Gostei muito.
Prazer.


=]

Fernanda Papandrea disse...

Gostei muito!
precisamos de compania e de solidão =)

lindo texto!

beijos

leila saads disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
leila saads disse...

"Você já deixou seu sonho debaixo de uma tempestade?".
Que lindo esse texto... Metáfora pura, lindo!

Parabéns!

Unknown disse...

Que bom que você fala de estrelas e borboletas...
Quanto aos sonhos, muitos ainda serão escondidos debaixo da tempestade, mas, acredite, depois eles brotarão da terra muito mais lindos.
Bjo!

Nathalia Alves Vanderlei disse...

"Você já deixou seu sonho debaixo de uma tempestade? Espero que da próxima vez você o carregue para outro lugar."

Essa foi a parte que mais teve significado pra mim.
Talvez, esteja chovendo nesse momento... e eu ainda não peguei minha capa de chuva, pra ir lá fora buscar os sonhos que eu esqueci por lá.

Parabéns Filipe. Texto excelente!

J.S. disse...

Adorei!!! Você é fantástico...nunca vou deixar meus sonhos embaixo da tempestade...
um beijo, menino!n

. disse...

Estou maravilhada com seu blog

Andrea de Lima disse...

belo dueto, você e a Jaya.

até mais ler.

Anônimo disse...

Olha eu aqui de novo. Estou aqui dessa vez para avisar que tem alguns prêmios esperando por você em meu blog. Não deixe de passar lá.

Até!

banzooo disse...

"... Se você não estivesse aqui na minha sala, tomando meu café, ouvindo minha conversa fiada, talvez não fosse tão importante pra mim..." As coisas são realmente assim!!

e os gigantes.. nossos medos? são os piores...

Adorei teu texto, se expressa perfeitamente bem! :)

[Ana Clara]

:: Daniel :: disse...

A casa, a velha casa, com o velho sofá, é o nosso recôndito. Alguns podem chamar até de fortaleza, mas eu prefiro cultuá-la como meu canto -- precioso pelos meus valores, que algunas pessoas do mundo insistem em julgar de velhas.

O amor e suas dores escamoteiam o sorriso da felicidade [aliás, linda essa tua frase: "Não tente me entender pelo meu sorriso porque nem sempre estarei feliz"].

Belo texto. Lindo mesmo. De emocionar.

Obrigado pelos comentários sempre honrosos lá na Velha Casa.

Abraço grande,
Daniel

ContaPraMarcela disse...

Hey moço!
Não pude deixar de conhecer teu blog, ja te vi linkado e comentando em muitos de meus amigos.. entre eles Jaya, Ziggy, Aninha, Chá das 5...
Gostei muito do que encontrei aqui!
Está de parabens! O texto do sofá esta extremamente forte, e muito interessante.
Voltarei mais vezes!
Beijos! E boa semana!

Camilinha disse...

Café?

Eu adoraria...

Beijos daqui...

Anônimo disse...

gostei desse texto.
é interessante.

tá sumido você...

beejoo

Unknown disse...

li seu texto e a reposta da jaya.

gostei. gostei muito!pensei em várias coisas... meus pensamentos soltos voaram e chegaram a um ponto ( o de partida,) não que essa seja a interpretação real, mas é o que eu senti, o que meus olhos viram ( ou melhor, o que meus olhos não veem):2 pessoas em uma, a pluralidade que habita em nós... o que torna as vezes dificil a convivencia conosco mesmo, mas com certeza a torna muito mais bonita

coincidencia?? NÃO, exteriorização



se eu ja deixei meus sonhos debaixo de uma tempestade?? não, voce nunca me deixou fazer isso..e quando eu insistia em o fazer voce os recolhia para dentro de um lugar seguro e só os devolvia para mim quando fosse possivel ver as estrelas novamente.
sim, eu sou muito agradecida por isso

Lilian Higa disse...

vixe, que lindo isso.

Fernando Locke disse...

cara, fantástico! gosto muito desse tipo de texto com digressoes, divagaçoes, e o pseudo-diálogo q v tem ali, cara,um jogo muito bom! irei no blog da Jaya pra conferir a respota, ok? até a vista e ontinue com seus trabalhos, estão muito bons!

Jaya Magalhães disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Washington Vieira disse...

Você gosta de café, mesmo... rsrsrs