domingo, 16 de março de 2008

Cem palavras



Não sei se você se lembra de ontem. Foi um dia qualquer. Estava quase chovendo, o céu nublado e uma paisagem triste se pintava na cidade. Era um daqueles dias nostálgicos em que a gente se lembra dos amores passados, da família distante, dos amigos que foram se desvencilhando do nosso labirinto. Você e eu calados, andando um ao lado do outro como dois estranhos. Ficamos assim uns vinte minutos: sem trocar uma palavra sequer. Até que você trombou em alguém ao atravessar a rua e nós dois rimos. Aquilo não foi engraçado, mas houve cumplicidade no nosso riso; parecia até que eu tinha planejado aquilo tudo só pra você saber que eu não falava, mas percebia.

Pensei que depois disso fosse surgir algum assunto. Nada. Um ou dois comentários sobre a cena inusitada e voltamos a nos calar. Não era um dia para conversas, definitivamente. Eu não via seus olhos, mas poderia adivinhar sua aflição e sua vontade de que aquele dia acabasse logo e viesse o próximo quando o céu voltaria a ficar azul. Lamento muito não ter tido duas ou três palavras de conforto ou de esperança. Entenda: eu também tenho o meu lado egoísta e solitário. Ás vezes até quero falar, mas o silêncio parece dizer tudo.

Ficamos naquele diálogo tácito durante um bom tempo. E eu me senti mal e o pior amigo do mundo quando eu disse que iria virar á direita. Despedimos-nos com um “até logo” e eu percebi que havíamos conversado durante todo aquele tempo. Não foi um diálogo exterior nem visível demais. Foi um silêncio subentendido de almas– e isso soa mais bonito que descaso.

Não, meu caro. A gente não precisa de palavras. A gente só precisa dessa parceria que nem a falta do diálogo é capaz de romper.


42 comentários:

Jefferson disse...

Deus do Céu!

Diabo do Inferno!

Que textos são esses rapaz! Simplemente maravilhosos, houve uma hora que me perdi, a minha visão sumiu e só enxergava as imagens do que estava lendo.

Caramba!

Parabéns!

Anônimo disse...

Às vezes realmente o silêncio é melhor que qualquer palavra...

Beijos.

Celeste Garcia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Celeste Garcia disse...

Lin-do o texto. Adorei seu mundo de Sofismas, Filipe!

Conheço bem essa conversa indizível. Tem horas que percebo as pessoas com medo de manterem-se mudas.

Às vezes o silêncio supera as palavras, como escreveu Juliana. Parece uma troca de pensamentos que acontece despretenciosamente, mas com quanta intensidade... isso sempre me surpreende.

Beijo, Filipe! :)

Mafê Probst disse...

O silêncio sempre diz muito mais que palavras...

Unknown disse...

Ah, como é bom, às vezes, não ter que dizer nada...Só os olhares, os gestos e os suspiros
Belo demais, Filipe.
Beijo,
Ana

entre-caminhos disse...

isso deve acontecer com todo mundo. Em um dia temos assuntos até pra vender e no outro é o que mais falta. Quase digo algo, mas há horas q nem dá vontade de esitar.
cada um tem seu momento calado.

adorei seu blog. vc escreve muito bem. Vou colocar entre meus favoritos.
=)

banzooo disse...

O diálogo das almas, a cumplicidade... Parabéns, belo texto! E vc não foi um mau amigo, vc esteve com ela até a esquina; outros nem iriam... e o próximo dia seria azul :)

[Ana Clara]

Srta. Festa disse...

Puxa que lindo! ^^

Me fez lembrar dos poemas que eu estudava na sexta serie. Queria agradecer também ao seu comentário simpático no meu blog, gostei muito. Assim, como também gostei muito desse cantinho aqui. É sempre bom conhecer pessoas novas nesse mundo da Blogosfera.

Obrigada e bjos pra você ^^

Ps. Também amei esse post aí embaixo. Tão nostálgico...

Vinícius Rodovalho disse...

Eu que o diga. O silêncio é uma arte, simples assim! Porque estar em silêncio é parar um pouco. Refletir e observar como as coisas seriam, são, foram, serão. Qualidade dos racionais, dádiva para todos.

Obrigado pelo seu comentário lá n'O Irrevogável. E eu gostei muito daqui. Volto mais vezes. Rs.

Até mais.

Vinícius Rodovalho disse...

Ah, preciso dizer que aprendi duas palavras novas. Sofisma e tácito. Rs. É o que digo, blogosfera também é - e bastante - cultura!

Morena disse...

O velho sentimento de amizade, como diria Ziraldo.
Bom conhecer tua escrita, homem. Bom mesmo!
Abraço.

:: Daniel :: disse...

Fala, Filipe!

Tem um cantor de SP, não sei se você conhece, chamado Pedro Mariano. Eu sou fã dele, muito embora reconheça sua porção piegas no mundo.

E tem uma música no CD mais recente dele chamada "Intacto". Ela diz muito sobre mim, e parece que eu a ouvi enquanto lia seu texto.

"Às vezes o silêncio tapa os buracos / E o amor prossegue intacto"

É do Jair Oliveira, parceiro dele. As palavras são poucas, mas dizem muito. Como o próprio silêncio o diz, mesmo com a ausência de verbos, sílabas e afins.

Belo texto, como de hábito encontrar por aqui. E parabéns pelo layout, ficou muito bom!

Abração e boa Páscoa,
Daniel

Nathalia Alves Vanderlei disse...

Amar é crer em silêncio.

Excelente texto, Filipe ;*
Beijos.

Lilian Higa disse...

putz. dizer "nossa, que lindo" seria um comentário muito banal pra um texto desses. fica então o meu silêncio ;)

Ana Cláudia Zumpano disse...

o silêncio diz muito, muito! os olhos, revelam as entrelinhas!
bjos ;*

Unknown disse...

Acontece demais comigo...

Clareana Arôxa disse...

Já vivi isso. Na hora,eu quase entrei em parafuso comigo mesma na tentativa de mater um diálogo ou algo parecido. Mas quando fui embora, percebi que só o fato de as mãos estarem dadas, valia mais do que qualquer idéia que a gente tivesse discutido.
Teu texto me fez bem.

beijo!

Clara Mazini disse...

Definitivamente é preciso muita cumplicidade para que possa existir silêncio. Particularmente adoro poder fazer isso com as pessoas certas.

Renato Ziggy disse...

Eu tenho sempre em mente de que até o silêncio fala. E a amizade é algo tão importante, que só fato de saber que se tem o amigo ao lado, às vezes palavras chegam a ser desnecessárias.Poxa, muito bonito, cara! Bem-aventurados os que forem seus amigos...

Critical Watcher disse...

O silêncio, por mais vilão que possa parecer, é um de nossos maiores parceiros. Geralmente, faço de meu silêncio uma conversa íntima com meu eu. Aproveito e reflito e sonho e luto e desejo e creio e amo e... e...
Ah, tantas coisas legais.
É, o silêncio é meu grande amigo.
Ele me alerta quando e como devo falar e a quem falar.

Abração, Lipe.
Me emocionei com seus comentários em meu blog...
;)

Lua Durand disse...

existem coisas que dispensam palavras.

:*

Anônimo disse...

as vezes o ambiente, a situação, o desconforte de um perto do outro ja diz tudo.. palavras são apenas para complementar

ameiii o texto

Camila disse...

às vezes, é preciso não dizer nada...

beijos daqui...

lucas rolim disse...

emudeço-me

pp1993 disse...

Nem sempre nos fazemos entender tão bem com palavras do que com olhares e gesto, muitas vezes, estes dizem bem mais!
lindo texto. beijos.

Bárbara Matias disse...

Quando o silêncio não mais incomoda, não mais cria aquela sensação de "ter de falar algo (nem que seja sobre o tempo)"...em um relacionar, aí sim se vive a paz do silêncio e um amor sadio, uma amizade íntima onde há além de reciprocidade, mas uma interação de sentimentos, de vivência, de vida.

Gostei demais da conta...

Lindo!

Bjim..

Marina Mah disse...

"A gente só precisa dessa parceria que nem a falta de diálogo pode romper"

Simplesmente lindo!
No início, pensei que o desfecho seria outro, mais dolorido... Provavelmente pelo momento que vivo.
Mas de repente você virou a mesa com toda a prataria e o porcelanato sem causar um arranhão, ao contrário, com imensa delicadeza.

Muito bom pessear por aqui!

Guilherme Côrtes disse...

ô Felipe! vc já tinha passado lá pelo blog sim, até comentário vc deixou, rs.

bicho, que texto sensitivo! é bom ler e ter a sensação que o coração que guiou todo esse momento.
gostei muito, mesmo.

rEd disse...

*O*
muito bom o texto =D
Gostei daqui!

Até.

Araúja Kodomo disse...

Belissimo texto!
O silencio realmente tem um poder qe nós desconhecemos...
Desculpa a invasao!!!

Anônimo disse...

"Foi um silêncio subentendido de almas– e isso soa mais bonito que descaso."

Às vezes é melhor ler o silêncio e as palavras que não são ditas...

Adorei este mundo que se apresenta aqui.
Voltarei mais vezes
boa semana!

Anônimo disse...

Posso te linkar?

beijos

A Maya disse...

Belíssimo!

Parabéns.

Lilian Higa disse...

@ deve ser pq coisa velha carrega um monte de história que a gte nem sabe :)

Anônimo disse...

Concordo plenamente.
Sou adepto do silêncio. Não o silêncio constrangedor, mas sim o silêncio necessário.

Muito bom, como sempre.

Abraço!

Indhiara disse...

Alguém já me disse que o silêncio é um bom indicador de amizade, em certas horas.
Temos a sensação da melhor conversa do mundo, sem que nenhum som tenha saído de nossa boca. Amizade assim é bom demais.

Amei o texto.


Abração!

Macel Guimarães disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Macel Guimarães disse...

Quando eu li esse texto eu vi o que realmente é ter a sensibilidade que deve existir numa amizade...msm q ela naum seja dita, seja apenas sentida...é como o amigo que se entristece pelo outro, mas mesmo assim, solta um sorriso para fazer o outro rir também.

Parabéns Filipe!

Anônimo disse...

"e não é preciso perguntar, falar,, gritar, rir, chorar, sorrir. Basta um olhar, basta um sentir. Basta sentir."

.beijos.

Fernando Locke disse...

Sabe oq eu gosto em seus textos! vc se coloca no lugar de seus personagens, o seu lírico é protagonista e conduz bem isso, vc não precisa de onisciencia para tornar o texto mais dinâmico. e além do mais, vc fala de sentimentos q todos, pelo menosuma vez na vida sentimos, e não tem como não se identificar! nota 10!

Jaya Magalhães disse...
Este comentário foi removido pelo autor.