sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Porão de entulhos


Vejo uma casinha de fazenda com uma cerca branca e árvores desenhando um caminho que leva a um riacho onde o sol salpica seus raios. A casinha tem duas janelas grandes de madeiras que, quando abertas, deixam transparecer os cômodos rústicos e muito agradáveis. Há um cheiro de café novo vindo da cozinha e, logo depois, um aroma de pão-de-queijo recém-saído do forno. Passeio pela casa e a percorro em um ou dois minutos de tão pequena. Uma portinhola no chão da lavanderia me chama a atenção. Abro e desço as escadas onde encontro um porão escuro cheirando a coisas velhas. Um pouco da luz do sol entra por algumas frestas e vejo baús antigos, caixas mofadas, brinquedos e instrumentos enferrujados, quadros se deteriorando. Percebo que a casa abriga dois extremos: o novo e o velho, o bonito e o feio, o agradável e o desconfortável.

Eu moro nessa casa desde que nasci. Algumas coisas que coloquei no porão nem sei quais são. Outras coisas eu até lembro e sei onde estão. Tenho vontade de revirar baús e buscar qualquer vestígio de algo adormecido. Alguns entulhos insistem em não ficar no porão e, durante minhas visitas, parecem clamar para que eu os tire dali. Eu os tiro, mas, quando me canso, volto com eles para o mesmo lugar onde eles sossegam, mas logo voltam a re-clamar.

Há pessoas que não conseguem separar a casa do porão. Viver no porão não deve ser tão confortável assim. O cheiro provoca náusea e a escuridão tristeza. É preciso tirar alguns dias par se arrumar a casa e ver o que deve ir para baixo juntamente com os entulhos. Não é bom deixar vestígios de caixas e baús. Eles afugentam as visitas.

Quando vou ao meu porão (e só eu faço isso), percebo que é tentadora a idéia de permanecer ali para sempre. Há tanta coisa aparentemente interessante! Mas logo me lembro do café quentinho e dos pães de queijo lá em cima. Volto para a cozinha e me sirvo de uma xícara de café fumegante. Fico horas debruçado na janela. Vez ou outra ouço gritos vindos do porão. Dou uma risada por dentro. Não, não troco aquele momento na janela por nada...

3 comentários:

Renata disse...

Nem pra contar que você tem um blog, hein!

Espero que você continue escrevendo, adorei os posts!

Bjos

Renato Ziggy disse...

Me vai um café também? Adorei sua casa, Lipão! Tô curioso pra ver a paisagem dessa janela aê.

Unknown disse...

Nossa.. lindo e real!!! Amei esse texto!

Diz muito de todos nós... sem palavras... emocionante!