Odeio você estar em todo canto, em todo sotaque que escuto, em todo cabelo cacheado – agora nem tanto – e ter que me perguntar “será que é ela?”. Odeio você sempre tão cheia de doenças, sem aceitar minhas preocupações e mudando de assunto, despistando seus dramas particulares. Odeio sua falta de coragem em me telefonar, mesmo tendo todos os bônus do mundo. Odeio você não ter escutado o seu telefone tocar quando eu me muni de coragem pra te dar um alô.
Odeio quando você prolonga sua estadia em mim, mesmo depois de uma conversa azul-vermelha de mil duzentos e cinquenta e sete minutos. Odeio seus torpedos bonitos que me fazem ser brega nas respostas. Tão brega que desisto de responder. Odeio você escrever bonito desse jeito e me arrancar o fôlego quando usa sua poesia em qualquer tom. Odeio também saber que você escreve dez vezes melhor do que eu, mas nunca reconhece e fica se fazendo de chata, desfazendo do próprio talento.
Odeio quando você fala palavrão porque acha engraçado, embora não goste. Odeio você odiar minha repulsa por essas palavras erradas que eu não tolero mesmo. Porque você é poesia. E só. Odeio tanto, mas tanto, quando você não me deixa falar do quanto gostei de um livro ou de um filme e briga comigo depois, dizendo que perdeu o gosto. Odeio pensar que nunca tomaremos coca-cola juntos porque você é insuportavelmente saudável. E também que só tomaremos sorvete de cajá, pelo jeito.
Odeio seu lirismo, sua doçura impregnante, seus jeitos e suas palavras tão suas. Odeio, às vezes, me ver parecido com você e pensar que você tomou espaço demais
Odeio você ter controle sobre meus sentimentos, me deixando atado quando aparece sorrateira em forma de neblina e me arranca pensamentos ousados. Não que eu realize tais pensamentos. Até porque, você me completa de forma tão eficaz que por vezes duvido ser você real. Odeio você rir da minha cara quando digo que você foi inventada e que é extensão dos meus desejos. E então eu começo a fingir ser alguém que não sou pra você achar que não me conhece. Você me descontrola e odeio.
Odeio quando você fala junto comigo a mesma coisa e me chama de previsível, sem esquecer que você também é. Odeio você nunca ter me forçado a gostar de Los Hermanos, que eu até passei a escutar mais frequentemente por sua causa. Odeio escutar Por onde andei sem poder te dar um abraço demorado e cantar junto com você essa música que se fez nossa quando nossa euforia era trocar e-mails com nomes de músicas. Odeio não receber mais cartas suas cheias de cola. E sua letrinha minúscula linda. E sua eternidade para me contar as coisas desinteressantes que, narradas por você, se tornam agradáveis.
Odeio você me encher de perguntas, me encurralando, me espremendo até eu ficar roxo e me fazer falar um monte de bobeira, só pra me livrar de você. Odeio querer você cada dia mais perto e não saber dizer isso da melhor maneira. Odeio ser tão besta diante de você e me sentir inerte diante das suas declarações doces e da forma como escreve meu nome, em miniatura.
Por fim, o que mais odeio é você me listar em tópicos que arrancam de mim sorrisos e lágrimas. Em réplica, tento expor você em argumentos odiáveis. E acabo descobrindo, então, que é amor. Porque eu não te odiaria com tanta precisão.
Coisas desse nosso encontro de palavras que se transforma em estalos no céu da boca. Notas de nós dois.
16 comentários:
E acabo descobrindo, então, que é amor. Porque eu não te odiaria com tanta precisão.
Perfeito.
:*
é, a gente precisa de amor. Sempre.
Porque você escreve tão beem?
Qual é o seu probleeema?
AUSHAUSHAUHUHASUHS
Gosto demais dos dois! (L)
Beijos
Olá Filipe!
Lindo demais o texto!
Beijos.
sem palavras.A gente acaba percebendo que tudo isso é amor,uma doação sem pedir nada em troca.
Amor intensidade. Amor paradoxo. Amor imprevisibilidade. Amor dúvida. Amor ...amor.
Gostei muito!
Abraço,
Own!!!
Que texto lindo, como todos os teus! Adoro!
Faz tempo que não venho por cá e muita coisa mudou... Adorei o layout claro!
E esse amor do texto, já vi por aí... em algum outro lugar, outras palavras...
Muito bonito!
Beijos, Lipe!
Por esses dias, eu vi um alguem escrever assim, falar desse Odio tão grande, tão grande!... que deixa feliz quem Ler!
Grande Abraço!
Amor é o ódio mais delicioso que existe, não é?
E como Dri disse, seu ódio faz feliz quem lê!
Beijos
Entre você, Filipe, e a Jaya existe algum tipo de ligação telepática não-proposital. Vocês são um, mesmo sendo dois.
Parceria que deu certo, eu acho, porque são parceria, mesmo quando não são.
Nunca vi encaixe tão perfeito...
~
Essa é uma das minhas tirinhas preferidas da Mafalda.
bj bj bonito.
ah sim, disse isso sobre a Jaya porque... você já leu o post de agora do Líricas?
Os seus textos me fazem ficar vindo aqui quase diariamente pra ver se tem coisa nova...
Lindo, pra variar. haha
Beeijo!
Amor, ódio, sentimentos, enfim, coisas que todo mundo sentiu, sente ou provavelmente sentirá. Mas que poucos ousam escrever, e menos ainda conseguem escrever tão bem.
Dizem que é fácil um sentimento de amor virar ódio. Talvez seja assim mesmo. Já passei por isso. Mas estou mais tranqüilo, como uma floresta que foi consumida pelo fogo. Uma época cinzenta.
E fico contente que tenha gostado do blog. Estamos aí!
Filipe,
que saudade de te visitar...!
Tempo, né?
Bem, sobre o texto...
Desfrute este teu ódio criado, do encaixar das palavras, mesmo odiando e amando como se os dois fossem a mesma coisa.
Porque acho que o pior é escrever, escrever e escrever e isso ficar só em nós, não se encaixar em ninguém, não ser completado, compreendido, subentendido por outros olhos e respondido. É triste, eu sei bem.
Dá sentido para a escrita, e em alguns casos para a realidade.
E beijo meu!
Pq eu costumo ficar sem palavras por aqui? Como que inerte neste encanto...
Lindo, lindo. Sinto que virei sempre aqui. Adoro seus textos, adoro o modo que escreve e é bom saber que ainda tem gente sensível como você.
Tinha que ser amor.
"O contrário do amor não é o ódio, é a indiferença." Freud
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