terça-feira, 16 de setembro de 2008

Boca amarga


Largue esse copo de cerveja. Poesia não nasce só quando os pensamentos estão ébrios. Mania de achar que os problemas podem ser afogados! Você afoga um e, minutos depois, o salva-vidas aparece; ironia. Tantos pesadelos que assolam sua alma. Tenho os meus também. O mundo parece que gira ao contrário, eu sei; difícil respirar qualquer gota de esperança. Há uma música que começa assim: “No mundo inteiro há tragédias. E o planeta tá morrendo.” Vamos beber uma água juntos. A água, para todos os efeitos, traz o benefício da purificação. A chuva já deve chegar em breve. Os índios percebem a tempestade que vem pelo simples ouvir da terra. Você já escutou os ruídos do ventre? Não existe silêncio por completo. John Cage disse que sempre existe algo pra ser visto ou escutado em qualquer tempo. E eu lhe garanto: o tempo é algo que se perde até mesmo quando praticamos grandezas. Somos todos vulneráveis demais, abalados demais pra nos deixarmos enganar por qualquer lenda. Vestir a camisa do lado avesso não lhe traz dinheiro, as mãos calejadas é que vêem, com orgulho, o valor de um prato de comida. E vamos todos esbravejar contra as injustiças?! Cada um faz sua injustiça de cada dia, não se deixe enganar. Ninguém é justo o suficiente. A luta exige esperança que a gente constrói de sonho em sonho. O mundo se afasta da paz, não existem mais mãos dadas e beijos estalados sob as estrelas. As poesias são meras repetições, perdeu-se a graça da novidade. Largue esse copo, afogue suas manhas. O bar é abrigo pra desilusão, máscara das desavenças. Olhe nos meus olhos, olhe bem fundo. É assim que tem que ser: busque essa cumplicidade no olhar do outro. Ainda existe um resquício de essência, qualquer que seja. Somos todos almas, mas vivemos na lama; outra ironia. Agora eu já vou, vou seguindo essa música que toca não sei de onde. Deve ser algum convite. Vou poetar.

23 comentários:

Fernanda disse...

Você me deu um soco no estomago.
Obrigada. O.O




Mil beijos s2

Flávia disse...

E essa música-convite que toca não se sabe onde está sempre no ar... por que será que ouvir é tão difícil, né?

Lindo teu texto. Precisava mesmo dele ;)

Beijo!

Átila Siqueira. disse...

Oi, gostei do seu blog, me parece muito bonito e interessante. Depois vou passar para visitar com mais calma.

Te conheci através do blog da Jaya, que adoro muito, e fiquei sabendo que vocês têm um blog juntos. Depois passo lá para visitar também.

Me visite também se puder: atilasiqueira.blogspot.com

Um grande abraço,
Átila Siqueira.

Alessandra Castro disse...

Um texto cru. É soh o que eu tenho há dizer.

Caio Miniaturas disse...

.
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Bom é assim, quando há uma mão

amiga, quente, em lugar da cerva

gelada. A vida é mais fácil de ser

vivida quando há um olhar de

encontro ao nosso, um passo em

nossa direção. Delícia de texto,

Filipe. Poeta nato!! Abração.

.
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Luifel disse...

Cara, realmente esse seu texto é um soco no estômago de muita gente.

As pessoas precisam aprender a buscar superarem os seus problemas, seus conflitos, seus medos e não ficarem afogando suas mágoas num copo de cerveja, whisky ou sei lá o que...

Parabéns kra! Abção!

nina disse...

que golpe esse. Vale pra todo mundo q se lamenta o tempo todo.

Bárbara Matias disse...

Filipe!!!

Massa demais...
Adorei este texto seu!

Somos contraditorios demais msm. Adorei este monólogo sincero, direto. Muito bom!!

Ainda acho que vc deve fazer um livro! =D

Bjos, orgulhosos e felizes.rsrs

Thiago disse...

Filipe!Que belo, mas eu não costumo ir ao bar pra afogar nada não, geralmente é diversão e por vezes até sai alguns papos legais! siga sempre o que seu ouvido pede!

Vivian disse...

...é uma pena que os bares existam para esta finalidade...afogar mágoas como se isso fosse possível num simples copo de cerveja, ou sei lá o que...isso denota e acentua a fraqueza do ser humano em saber adminsitrar seus conflitos com olhos da razão...mas, se é mais fácil camuflar, por que então enfrentar? belíssimo chamado à razão...lindo vc...bjusss

Anônimo disse...

Sempre denso o seu texto, belo, nos fala diretamente à alma. Gostei muito de ler porque cutucou tudo no meu coração, preconceitos, mania de perfeição, fuga da realidade...

Xaxeila

Johny Farias disse...

Cada um procura um meandro de fugir ou encontrar algum paradigma distinto do momento vigente.

Como disse Kerouac, os bares são como catedrais. Mas não ah como fugir de si mesmo, né?

Abraço cara.

Polly Barros disse...

nossa... Filipe pra prefeito!! hehe

Assim tão direto, um tanto ressequido, e muito enfático, você disse tudo de maneira tão sublime!

E viva a água que nos purifica e o som exalado de nós mesmos!.. [Uns afogamentos de vez em qdo só pra não esquecermos de nossa futilidade... hehe]

Beijoo

Srta. Festa disse...

Ai nossa obrigada pelo seu texto. Me deixou mais leve hoje. Justo hoje um dia tão pesado e cheio de tarefas, foi uma boa decisão ter vindo aqui.

Valeu tava precisando, bjos ^^

A Maya disse...

Bah..
choque de realidade.
Bom,ótimo.

Fabi disse...

Realmente o texto é uma realidade, uns buscam fugir da realidade em um copo de cerveja, drogas e outras coisas mais...
Eu já prefiro escrever... me acalma.

Raíssa Murta disse...

Mto massa seu texto!!!
"o tempo é algo que se perde até mesmo qdo praticamos coisas grandiosas..."
Mto bom mesmo!!Gostei...

E...Nossa...O seu Blog eh bonito né??Será que um dia o meu vai ficar assim?? =P
Bjs

Anônimo disse...

Vou poetar ficou fantástico.

Glau Ribeiro disse...

Ei Filipe,

Que texto bom! Tão próximo a realidade de tanta gente. Realidade desse nosso mundo né?

Gosto muito da sua forma de escrever. Faz a gente aqui do outro lado pensar em tanta coisa.

E que coisa linda essa: "Ainda existe um resquício de essência, qualquer que seja."

Espero que mais pessoas abandonem o copo de cerveja e passem a abandonar o medo de enfrentar seus problemas. Acho que a gente encontrou uma maneira de dar umas "escapadinhas" de vez em quando: escrevendo.

Bom demais passar aqui.

Se cuida.

Bjs!

Sheyla disse...

No fim, a esperança. Gosto disso!
Bjs.

Alexandre Lucio Fernandes disse...

E deixar que aquela essência invisíve percorra seu corpo, te inspirando a sorrir, a cantar e a poetar.

Vamos parar de procurar o que preencher o suposto vazio. Vamos continuar a recitar poesia.

Lindo, sublime.

Abraços

Jaya Magalhães disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ariana Luz disse...

Uma embriaguez salutar.

flores