terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Cego


Essa sensação estranha de ter vivido algo que nunca vivi. Essa mania de palpitar na vida alheia, sugerindo algo que eu não faria, que eu não seria ou não gostaria de ser. Sentimentos confusos de quem parece já ter ido ao futuro e voltado com um milhão de problemas. Essa vontade de problematizar todos os caminhos, todas as chances, de deixar toda porta entreaberta, caso queira voltar depois. Deixar tudo reticente, inacabado. Não brigar, por conveniência. Não amar, por medo. Não cair, pela consequência da queda. Não arriscar, por apego ao certo. Não viver profundamente, intensamente, milimetricamente. Esperdiçando as emoções, os tempos, as fases, as estações. Essa mania de ser humano demais, estável demais, de ter que dar conta, de não desabar. Ser e ter. Comprar e dar valor. Respeitar sem limites, sem até mesmo auto-respeitar-me. Essa sensação de tudo ser muito escuro. E de eu ter que ser o cego que tateia. Em busca de estrelas distraídas.

6 comentários:

Rebeca Postigo disse...

Estranha sensação...
Mas de certa forma frequente... =S

Bjs

Sândrio cândido. disse...

esta angustia que nos toma...
abraços

Henrique Miné disse...

bem, ainda me mata.

Se já não matou.

Jaya Magalhães disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alice disse...

Para tocar estrelas distraídas eu aceito ser o cego.

Aline Azevedo disse...

O importante é que você encontre, as tais estrelas.