Então você chegaria com um sorriso tímido na face e mãos trêmulas que não saberiam onde se esconder. Eu riria de você tentando disfarçar seu nervosismo, mas também lembraria do meu, que pareceria um gigante invisível ao meu lado. Nos olharíamos por quase um minuto antes de nos entregarmos a um abraço longo e demorado com suspiros de alívio e sorrisos – dessa vez não tão tímidos.
Eu pegaria você pelas mãos e te levaria pra algum lugar muito meu a fim de que você conhecesse e passasse a ser muito seu também. Sentaríamos um de frente para o outro e eu olharia dentro de você, usando um binóculo fantasioso que eu tenho. Depois, arrancaria do meu bolso um ramalhete de poesias e ficaríamos horas lendo e comentando cada estrofe, dizendo sobre como aquelas palavras carregam muito de nós dois.
Assim, quando já estivéssemos bem à vontade, embriagados da felicidade de podermos tocar nossos dedos sem o medo irritante de sermos descobertos, eu diria a você algumas frases engasgadas. Aposto como eu ficaria nervoso nesse momento. Talvez eu até começasse a gaguejar e diminuir o tom de voz, desejando um terremoto naquele instante para que a gente tivesse de sair correndo. Mas eu lembraria que você nunca esquece nada e, possivelmente, me ligaria dois minutos após o terremoto e me pediria pra continuar a conversa – aquela interrompida pelo abalo sísmico psicológico.
Mas se não houvesse terremoto – o que é muito provável, considerando que estivéssemos no Brasil – eu pediria que você fechasse os olhos para eu dizer tudo. Só quando você estivesse com as pálpebras cerradinhas e um sorriso torto no corpo inteiro dizendo “Eu não acredito que uma pessoa possa ser assim” – só então eu começaria a falar com segurança.
Eu diria que você é o meu amor e que eu gastei dois anos de versos para falar de você – ainda que indiretamente. Falaria que eu gosto muito do jeito como você me trata, ainda que eu, por vezes, não consiga retribuir. E que sua voz ao telefone parece enviar qualquer tipo de corrente elétrica que passeia por meu corpo todo, acionando mil setecentos e doze notas diferentes. Percebe que eu canto, enquanto falo com você?
Também diria que eu gostava dos seus cachos e de como a poesia combinava muito com eles. Mas também gosto do cabelo liso – porque se eu não dissesse isso você ficaria chateada. Gosto muito dos seus torpedos gayzinhos e do seu mau-humor sarcástico que me mata de rir. E dos seus exageros e dramas, pra me comover. Gosto das suas histórias demoradas, dos detalhes, da forma como você me coloca dentro delas e de como você fica bonita narrando e gesticulando ao mesmo tempo.
Eu diria que nunca quis uma pessoa tão perto. E que, em alguns momentos, me dava raiva não poder ir até sua casa, bater na porta, encontrar você com o rosto marcado de travesseiro, com os olhos pesados e um pijama combinando com as pantufas. E depois de rir da sua cara, entrar para tomarmos o café da manhã. Eu sei que você não toma café da manhã – já até brigamos por isso – mas eu te faria comer, nem que para isso eu tivesse que simular uma estúpida chantagem: “Se não comer, nunca mais falo com você”. E sei que você comeria tudo, com muita pressa.
Diria que eu fico imaginando o dia do meu aniversário de setenta anos. Nós dois velhinhos, com os olhos satisfeitos e os dedos entrelaçados com a mesma força da juventude. Fico imaginando que você, pra me surpreender, prepararia um discurso. Levantaria no meio de toda aquela gente e, com a voz rouca e fraca, leria sua carta com pausas de emoção, enquanto eu entoaria um choro escandaloso, sem vergonha de repetir em cada lágrima: fiz a escolha certa. Penso que suas palavras falariam muito bem de mim e eu iria embora deste mundo com a certeza de ter vivido aquilo que Vinicius chamou de um grande amor.
Eu diria que você me completa de forma a não deixar nem uma brechinha. Daí eu assumiria acreditar mesmo naquela velha história de partes que se fazem todo. Diria, por fim, para você abrir os olhos. Imagino que, ao abrir, você me faria um carinho implícito. Eu te abraçaria e diria que, sim, tenho mais uma surpresa. Então eu tiraria da minha mochila um presente que deixaria você muito louca, dando gritinhos de satisfação. Você me apertaria e me agradeceria eternamente. E nós comeríamos juntos o seu presente – um pote de sorvete de cajá.
Depois, provavelmente, você me chamaria de meu benzinho e se enroscaria no meu peito, dizendo que só tem um pensamento: ser só minha até morrer. Com o coração se manifestando por meio de sons inapropriadamente audíveis, eu te olharia com olhos mansos, lembrando de como desejei aquilo tudo. De como desejei, a vida toda, você.
16 comentários:
Morri, agora.
De fato, chorei! kkkk
Só duas palavras: romântico e lindo.
Beijo, Lipe!
É fez o casal chorar! kkkkk!
Belo texto! jeito unico...
Grande Abraço!
Que lindo, que texto mais lindo. Segue bem a linha de um romance que (ainda) quero viver com uma determinada pessoa. Espero que um dia seu texto aconteça comigo, eu seria muito feliz, de fato.
Puxa vida, que lindo! *-*
De tudo o mais encantador, é descobrir o sentimento por trás de cada palavra.
Muito, muito, muito lindo!
Parebéns!
Beijo. ;*
É lógico que todo mundo que vir aqui e ler, vai chorar. É lógico!! Há dias em que penso que o que quero pra preencher a minha vida, fica estúpido, besta, sabe. Aí, eu venho aqui, leio um texto tão cheio de sei lá o quê (juro que não encontro a palavra certa agora), e vejo que não é besta, não. Eu viveria uma vida só disso. Viveria muito.
Parabéns. Sorte!
você me acometeu reflexões.. meio Filipe, como sempre.
seria até saudável que todos os casais tivessem assim, outros primeiros encontros.
ahhh como meu desejo foi realizado!!
ler um texto lindo desses logo pela manhã!isso é muito melhor que qualquer café da manhã!!
Lindo, lindo!!
Beijoss
cara...o que é isso??! ameei!
PERFEITO*___________*, parabéns!
Que lindo *.*
Emocionante, romântico e sensível.
Cada palavra é um suspirar suave.
Grande Beijo.
Caramba, excelente texto, me fez lembrar de algumas coisas do passado e arrancar algumas lagrimas, juro!
Mas, enfim, preciso voltar a ser o romÂntico que era antes porque estou ficando tão seco e arido...
Abção!
PS: Felipão, voltei a postar, depois qdo puder da uma passada por lá.
Só não vá fazer a Limãozinho engasgaaar!
Um beijo.
Obs.: Ganhei um hamster chinês, o nome dele é João (por causa de um amigo desenhista) Filipe (por sua causa) Carlos (por causa de Robero Carlos) Ricardo (porque eu adooooro o Titulo RICARDÃO).
ashuhsushaushaushaushu
Filipe, senti saudade.
Por um tempo não pude vir aqui. Se não estou enganada, seu espaço esteve restrito por um tempo, não sei, exatamente, quanto. Enfim, hoje, passeando nas palavras da Jaya, resolvi tentar outra vez. E, pá. Cheguei e chorei o tempo que não li suas palavras tão doces. Obrigada. O amor é sempre assim ... Aqui, ou aí, é lindo. Comove. E é real.
Beijo grande!
Apareça, por favor.
Será que ela sabe disso tudo? Será que ela leu? A coisa mais linda do teu blog, esse teu texto. E mais sincera, também... pena que foi tudo em futuro do pretérito... pena mesmo... =/
Não dá. Não sai nada. É lindo demais. Emudece até mesmo as palavras escritas.
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