domingo, 11 de maio de 2014

New York, maio chuvoso

L,

Ontem choveu. E eu caminhava pelo Bryant Park com as sacolas dos seus presentes, olhando para as alamedas como se você fosse aparecer em uma delas, a qualquer momento. Se eu fumasse, talvez acenderia um cigarro para poder pensar nas coisas com mais vagar. Eu sinto que meu coração treme só de pensar num futuro com você. E não é por medo. É que tudo parece muito bem cuidado, bem entoado, como se você tivesse saído dos meus desejos mais internos. Eu gosto de você me puxando pela mão, me falando de saudade e dizendo que nossos filhos serão todos muito lindos, como aqueles da capa da revista.

Eu pensei sobre o que você me disse outro dia: sobre a gente viver em torno do passado, cuidando para que ele passe depressa. E quanto mais rápido a gente quer fazê-lo passar, mais ele se demora. É como um convidado indesejado que vai espichando os pés no sofá, tirando as meias e pedindo mais duas doses de licor. Eu acho que as lembranças do passado ficam, o que vai embora é aquele sentimento único de eternidade. Porque, ali, naquele recente, parece ser tão ideal, tão próprio, tão merecido que a gente deixa de enxergar as possibilidades. Eu perdi meu emprego dos sonhos. Mas eu conheci você. Há sempre algo bom vindo quando a gente tateia coisas boas.

Faltam alguns dias para eu te dar um novo abraço. E tudo será tão novo como aquele dia em que apareci na rodoviária e você me recebeu com um sorriso tímido. Depois me agarrou no meio da rua, me fazendo mudar de cor. Seu perfume ainda me perturba: eu cheiro você. O que me atormenta é o fato de ainda não responder a pergunta que eu me fiz quando do nosso primeiro encontro: onde o mundo se esconde quando você me beija?

Do seu,


F.  

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