quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Rute


Algumas vezes, Rute me chamava para conversar. Era uma conversa de sinais, de olhos, bocas, sobrancelhas, pálpebras. O corpo de Rute falava, enquanto me levava para algum lugar muito perto do sol. Naquela época, eu não sabia o que era o amor entre homem-mulher, por isso eu a amava como mãe, como alma. Aquelas mãos que amoleciam meus cabelos e me ofereciam bolo de fubá; aquela voz que enfeitava as histórias mais encantadas e me chamava de meu querido; aqueles pés sempre limpos que pedalavam a parte de baixo do piano: música que eternizava. Quando a gente cresce, as pessoas ficam desinteressantes. Caem da moldura e se mostram covardes para serem lindas. Eu, criança, conheci a sinceridade de Rute. Hoje, ela, envergonhada da minha barba e da minha voz grossa, caminha apressada na rua e me manda um tímido aceno. Ah, que saudade de Rute.

6 comentários:

Henrique Miné disse...

é o que sempre falo, o tempo está aí pra acabar com tudo, sem o menor pingo de misericordia...

abraço!

aline disse...

que graça!

Gabriela Marques de Omena disse...

O primeiro amor, ainda na infância, é o mais doce. Amar com a alma é lindo.

Adorei seu cantinho, lhe sigo.
Beijo doce, ótimo fim de semana.

Vívian Machado disse...

A gente vai crescendo e vai vendo coisa onde não tem, isso sim.
A simplicidade de outrora parece até que se esconde debaixo das preocupações e bobagens mais corriqueiras que aqueles afagos simples da Rute. Ah, Rute!

Você ganhou uma centésima seguidora, tá?!
Beijos!

Renata disse...

Ai que saudade da minha inocência de criança, quando eu achava que a minha espécie era cheia de pessoas legais.
Que saudade.

Discordo completamente daquela música da Maria Gadú que exalta o tempo. O tempo é um dos senhores mais feios. Destroi tudo, até as coisas que não merecem.

.Fran. disse...

O tempo mostra outros lados, outras perspectivas. Não é mau, só implacável.