terça-feira, 8 de junho de 2010

Depois que você se foi


Depois que você se foi, eu fiquei alguns meses sem nem saber que você ainda morava em mim. Tudo ia muito bem e a decisão parecia ter sido a mais acertada. O problema foi quando veio a certeza de que eu havia perdido um amor muito bonito. Aí doeu. Veio saudade e vontades instantâneas de chamar você de volta. Escrevi um texto, até. Era uma despedida, porque não tivemos uma. Escrevi meu todo ali, dizendo que seria muito bom guardar nossas lembranças. Inevitável foi concluir que eu não poderei jamais falar de amor sem mencionar você.


Depois que você se foi, escutei todos os CDs de Los Hermanos. Passei a traduzir Chico e a buscar as poesias que você abraçava nos dois. Julguei muito injusto não podermos dividir o que eu vinha aprendendo. Injusto também eu não falar das outras músicas que nos traduziriam muito bem. “Tudo diferente”, cantada por Maria Gadú, conhece? Diz assim: Todos caminhos trilham pra a gente se ver/ Todas as trilhas caminham pra gente se achar. É isso que eu teria te dito, talvez. Isso e coisas bregas que você sempre me fazia dizer. Sempre.


Depois que você se foi, fiquei me perguntando como você estaria. Se doía em você também. Quanto tempo doeu. Se houve esperança. Se houve outros caras interessantes. E aí eu quis muito que você se libertasse primeiro. Que me esfregasse na cara um romance muito mais lindo do que aquele nosso, embora eu julgasse difícil essa parte. Mas é que eu precisava saber de você feliz.


Depois que você se foi, eu tive que fazer terapia e tomar medicamentos para depressão. É mentira. Hehe. Mas eu não consegui andar sozinho, algumas vezes. Faltava uma parte grande: era essa a sensação. Daí que fui dando meus passos trôpegos e, hoje, seis meses depois, ainda me pergunto se tá tudo bem aqui dentro. Não sei. Parte de mim já desistiu desse negócio de amor. Pra mim só existiu uma vez: você. Outra parte ainda tem a esperança de haver algo parecido, equiparado. Não igual.


Também coloco um ponto final aqui. Prolongar despedidas sempre foi a nossa cara, mesmo. Mas não estamos mais em tempo disso. Tempo de brigar só pra ter que retornar aos seus braços. Tempo de sumir só pra você ter que me achar. Era assim antes e era muito bom. Vamos deixar esse retrato intocável. Relicário, como você bem disse. Eu respeito também. Ao longe, já vejo nossos dedos se soltando. E o coração atenta praquilo que há de vir; não há caminho melhor: nós abrigamos o amor.


12 comentários:

entre-caminhos disse...

O que dizer sobre os seus textos???

Sempre me pergunto o que comentar aqui porque você sempre traduz um momento íntimo e ao msm tempo partilhado.

As situações escritas são similares às minhas e a metade do mundo, mas você os traduz de uma forma impecável, única.

Sou fã.

Erica de Paula disse...

Adorei aqui!!!

Linkando e seguindo, voltarei com mais calma!
Bjos no coração!

Vanessa Cristina disse...

Não sei o que comentar, não. Sempre paro aqui pra sentir essa sensação estranha de que você sempre arranca algo de dentro de mim. É bom, isso.


;*

Juliana Porto disse...

E se for verdadeiro, nunca haverá vãos no espaços entre os dedos de vocês.

Boa sorte.

Abraços!

Nina Vieira disse...

Nem fale em prolongar despedidas. É o que mais tenho feito, embora esteja aprendendo a arte do desprendimento. Mas aprendi na marra. Isso é coisa que ninguém pode ensinar.

Maria disse...

Também prolongo despedidas. Não sei por qual motivo. =/

Mui belo, Filipe.

Ana EmíliaYamashita disse...

E sempre que venho fico assim sem saber o que dizer.

Gabi Pasquale disse...

Meus olhos marejados dizem: "retrato quase fiel de algo que passei". Seus textos me tocam muito. Suas palavras são incríveis.

Parabéns, Filipe, Sempre

Junkie Careta disse...

Meu amigo poeta,

Só consigo pensar em Caio F. ao terminar de ler teu texto, como sempre bom:

"Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro? Deve haver um porto".

O pior, ou o melhor(não sei até hoje) é que nunca muda na medida que se vai vivendo. Só me prometa que se encontrar um amor assim, de novo, não vai deixá-lo passar.

Estou convidando os amigos para celebrar algo comigo no Spleen. Apareça quando puder. Leve sua taça.

Grande abraço

Aline Azevedo disse...

Filipe,
Tive que me segurar pra não chorar. E muito. Primeiro porque me emociona. Talvez o fato de me identificar quase cem por cento, talvez o fato de ser apenas lindo, tão lindo que dói. Feito com a alma, pra ser lido com ela também. "Mas é que eu precisava saber de você feliz." Essa é a maior prova do amor. E, desistir do amor, alma nenhuma pode. amores são todos belos, nenhum nunca será igual, porém haverá outro muito lindo, que será apenas diferente. Esse é o ciclo da vida, ou não. Ou amor mesmo a gente só sinta uma vez. Também não sei. Só sei que é bom ter um amor assim. Guardado intacto, sem nenhum defeito, para que seja eterno.

Um beijo-+

Bárbara Grou. disse...

Muito lindo. Mas sabe, bem, você já deve saber, é que nada, nada pode ser igual, nenhum amor que é mesmo amor é igual a outro, mas o fato que que a gente ama, e ama mesmo várias vezes, mesmo que nessas horas e horas que passam tão sozinhas a gente nem acredite que possa ser de novo amor, de vedade.
Beijo!

Haya disse...

Sabe o que eu penso? Eu penso que o amor precisa ser consumido até o fim. Racionalizar o amor, colocá-lo numa balança nunca deu muito certo. Não se permitir ao que é belo (porque sabemos muito bem quando um amor é belo) é punir-se, é, inconscientemente, querer ter assunto pra poetizar (s ou z aqui néam?), é morrer aos poucos. Ninguém é absolutamente feliz enterrando um amor que ainda pulsa, a gente só finge que é.

Bom, mas isso é só o que eu penso.

Beijão.