quarta-feira, 24 de junho de 2009

Benjamim III


- Você vai ficar me seguindo como se fosse o Watson e eu, Sherlock? – esbravejei, me voltando bruscamente para Amélia. Ela levou a mão ao peito, assustada.


- Tudo bem. Se precisar de mim, estarei na sala. – ela disse e voltou os passos, apressada.


Tomei o caminho das portas dos fundos e cheguei a um jardim pequeno, mas bem cuidado. Dali, pude ver as janelas do quarto da falecida. Andando mais à frente, vi a janela do quarto de Carmem, a filha que vivia entrevada na cama. Sorri orgulhoso quando avistei alguns rastros na parede. Pegadas sutis, mas perceptíveis, que davam para a janela do quarto da adoentada.


- Benjamim. – alguém chamou e eu me voltei, distraído. Era uma moça de vinte e poucos anos com um sorriso belo, mas nervoso. Comecei a acreditar que a minha presença naquela casa deixava as pessoas muito embaraçadas.


- Pois não. – respondi ao chamado e ela manteve-se em silêncio. – Ia me dizer algo?


- Dona Amélia está perguntando se o senhor precisa de algo. – ela anunciou, enfim, como se estivesse saindo de um transe nervoso.


- Por Deus, que mulher impertinente. Volte lá e diga a ela pra ficar trancada dentro do quarto, sim?


A moça ia voltando por onde veio, mas eu a detive.


- Você é uma das enfermeiras?


- Sim. – ela respondeu, sem me olhar.


- E tem nome?


- Oh, claro, me desculpe. Meu nome é Rosemeire. Rose. – e ela riu, desconsertada.


- Rose, está vendo aquela sujeira na parede? – e apontei, mostrando poucos centímetros abaixo da janela do quarto de Carmem.


- Parece uma marca de sapato.


- Uau, vejo que você é uma moça muito esperta. – depois, largando o sarcasmo de lado, perguntei: - Nunca tinha notado aquilo, não é?


- Posso garantir que não. Dona Amélia faz o possível para manter a casa sempre muito limpa; é obcecada por limpeza. Tenho certeza que é algo recente. Ela não deve ter percebido e nem dado ordens para que fosse removido dali.


- Uma pessoa obcecada por limpezas. – eu repeti em voz alta. – O que mais você me diz sobre Amélia, Rose? Que tipo de pessoa ela é?


- É uma pessoa adorável. Gostava muito da mãe, sabe? Todos os dias ela a trazia para este jardim e lia algumas histórias durante toda a manhã. Dona Ieda sempre gostou muito de ler, ao que fiquei sabendo. Na impossibilidade, Amélia fazia a leitura para a mãe.


- E você ficava por perto, nesses momentos? Via a relação das duas?


- Elas se davam bem. Dona Ieda, nos últimos tempos, andava sem paciência para muita coisa. Reclamava e brigava com todas as enfermeiras. Estava se tornando uma pessoa difícil, se é que me entende.


- Você imagina quem desejaria a morte da pobre senhora?


A moça persignou-se.


- Não imagino quem poderia desejar tamanho mal. – ela afirmou convicta.


- Alguém aumentou a dosagem do remédio de Dona Ieda, como deve saber. Os remédios são acessíveis a todos, nessa casa?


- Nós guardávamos os remédios em uma caixa, dentro da despensa. E todos sabiam disso. – ela informou.


- Todos os remédios eram guardados nessa caixa, sem exceção? – perguntei, enfaticamente.


Ela pensou.


- Mantínhamos um vidro de analgésicos no criado mudo, ao lado da cama de Dona Ieda. Ela costumava sentir dores à noite e deixávamos ao seu alcance para que ela mesma pudesse tomar os comprimidos. Sempre foi assim.


- Analgésicos... – murmurei.


- O senhor disse algo?


- Não. Sim, na verdade, você pode me conseguir um telefone, Rose? Preciso fazer uma ligação.


Ela se retirou prontamente e eu fiquei em aguardo, no mesmo lugar. Lancei meus olhos para o alto, na direção da pegada que manchava a parede. Logo à cima, o Dr. Romeu apontou na janela. Eu acenei. Ele sorriu nervoso e voltou-se para dentro imediatamente.


... CONTINUA

acompanhe o desfecho da trama no dia 30/06


6 comentários:

Lucas Vallim disse...

ah mas que coisa cara! rsrs Assim você me mata de curiosidade. Acho que você encontrou seu estilo de escrever, não foi? Não digo só casos de detetives, e sim contos com misterios... você é bom nisso.

disse...

Dia 30??????? Aindaa????

Td bem...aguardo ansiosa...Deixa eu te contar: no começo quis dar uma de detetive tb, mas, agora, o rumo q a história está tomando imagino que venha por aí, dessa sua cabecinha, algo bem inusitado... :D

Vamos ver!!!

Bjosss :**

Anônimo disse...

Caraaaamba! Dia 30, ainda? A curiosidade me mata. Enquanto isso vou continuar formulando minhas teorias, pra ver se acerto.

Abç!
(Depois de 3 partes, enfim o final do Achados e Perdidos SA, no blog!)

Abç!

gabi disse...

30, é?

humpf!

Fernanda disse...

Estarei aqui dia 30! *-*

E siiiiiiim, eu e a Tatá somos au-aus, mas a carne é só dela, sou vegetariana!
HASUHAUSHAUS


Beiiiiijinhos, tenho saudades de tomar café com vodka com você (no msn)

Lucas Vallim disse...

Estou vindo aqui para dizer que fiquei muito, muito grato pelo teu, como posso chamar? Pela tua ANÁLISE do meu conto. Suas palavras me animam muitíssimo, e você realmente consegue entender as coisas que eu escrevo, as mensagens por trás do conto, e por falar, estou esperando a parte IV da tua crônica.

Até logo,

Lucas.