domingo, 8 de junho de 2014

Belo Horizonte, junho

L,

Eu percebo seu toque sutil de pernas quando tenta sair da cama sem me acordar. Percebo você ir para o banheiro rapidinho porque o xixi te deixa um pouco desesperada. E você deixa a porta do banheiro aberta, senta-se e abaixa a cabeça entre as mãos, soltando um suspiro de alívio que, ao meu ver, foi o mesmo suspiro dado no dia em que eu disse estar apaixonado.

Eu percebo você ir à cozinha e preparar o café. Porque você me conhece e sabe que, antes mesmo de abrir os olhos, eu preciso de uma dose. Me chama pra sentar à mesa enquanto fica de pé, me analisando com olhos paralíticos, pensando em como eu posso dar tanta importância pra um líquido preto, sendo que água é muito melhor. Daí eu pego você pela cintura, sentindo o tecido levinho da sua camisola de sêda e me escoro no seu ventre. Ficamos então abraçadinhos enquanto você reclama do meu hábito de espioná-la enquanto faz xixi. Eu digo apenas que o hábito é seu de deixar a porta sempre aberta.

Eu percebo você arrumar sua bolsa antes de sair e escrever o bilhetinho que irá deixar perto do telefone, contando o quanto você já está ansiosa pra me ver a noite. E eu cheiro o papel que é pra fazer seu perfume impregnar em mim até as seis da tarde, momento em que vou segurar sua cintura outra vez.

Eu percebo que você se cansa de mim e me deixa quieto aos domingos. Percebo que você sente falta e volta reclamando do meu jeito introspectivo. Argumento dizendo que é só um jeito e que isso não significa estar gostando menos. Ao contrário, a curva de ascendência se promove em ritmo desenfreado e eu me pergunto: como posso gostar tanto de alguém?

Sabe, às vezes eu só queria saber o que seria se não fosse você. Se não fosse seu jeitinho miudinho me puxando pra um romance que eu duvidei existir. Eu só queria saber se existe felicidade longe desse espaço entre nós dois.

F.

3 comentários:

Laysla Fontes disse...

O quarto parágrafo!

Você continua com essa escrita que prende a gente. Muito amor!

Carla Dias disse...

Te sinto leve, Lipe. Leve e flutuando. Acho que nunca te li tão lindo como nesses teus últimos escritos. Me fez até fazer um "own" em voz alta rs.

Beijos!

Camilla Leonel disse...

Que coisa mais linda!