L,
Ontem choveu. E eu caminhava pelo Bryant Park com as
sacolas dos seus presentes, olhando para as alamedas como se você fosse
aparecer em uma delas, a qualquer momento. Se eu fumasse, talvez acenderia um
cigarro para poder pensar nas coisas com mais vagar. Eu sinto que meu coração
treme só de pensar num futuro com você. E não é por medo. É que tudo parece
muito bem cuidado, bem entoado, como se você tivesse saído dos meus desejos
mais internos. Eu gosto de você me puxando pela mão, me falando de saudade e
dizendo que nossos filhos serão todos muito lindos, como aqueles da capa da revista.
Eu pensei sobre o que você me disse outro dia: sobre
a gente viver em torno do passado, cuidando para que ele passe depressa. E
quanto mais rápido a gente quer fazê-lo passar, mais ele se demora. É como um
convidado indesejado que vai espichando os pés no sofá, tirando as meias e
pedindo mais duas doses de licor. Eu acho que as lembranças do passado ficam, o
que vai embora é aquele sentimento único de eternidade. Porque, ali, naquele
recente, parece ser tão ideal, tão próprio, tão merecido que a gente deixa de
enxergar as possibilidades. Eu perdi meu emprego dos sonhos. Mas eu conheci você.
Há sempre algo bom vindo quando a gente tateia coisas boas.
Faltam alguns dias para eu te dar um novo abraço. E
tudo será tão novo como aquele dia em que apareci na rodoviária e você me
recebeu com um sorriso tímido. Depois me agarrou no meio da rua, me fazendo
mudar de cor. Seu perfume ainda me perturba: eu cheiro você. O que me atormenta
é o fato de ainda não responder a pergunta que eu me fiz quando do nosso
primeiro encontro: onde o mundo se esconde quando você me beija?
Do seu,
F.
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