terça-feira, 25 de agosto de 2015

Desalmar

As pessoas não estão habituadas ao amor. Isso não é mais novidade. Românticos, idealistas, sonhadores são todos parte de uma classe em extinção. A classe que ora surge – e esta me preocupa – é aquela que deprecia o amor. Que faz chacota das declarações românticas, que faz piada com o sentimentalismo, que desacredita dos gestos afáveis (porque são piegas demais). Desconfio dessa gente, dessa classe que perdeu os bons adjetivos, que não sabe encantar o parceiro, que se horroriza com as ‘tolices’ dos apaixonados. Desconfio dessa gente que prefere o óbvio ao papelzinho deixado em cima da mesa do café, com a declaração de amor que faz o dia nascer feliz. Temo a falta da ternura, a falta de fé, a falta de gentileza, a falta das serestas, dos poemas rimados, das cartas com juras de amor. Temo a vergonha que se tem do amor de Cazuza – aquele com mil rosas roubadas. Se a regra agora é amar discretamente, linearmente, silenciosamente, desconfio que o instituidor dessa lei nunca soube, de fato, o que é amor. Porque amor mesmo não cabe apertado no peito. Não cabe em lugar nenhum.

Um comentário:

Anna Kallyne disse...
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