Te olho pela fresta da porta, seu
corpo enfeitando minha cama de solteiro enquanto um lençol branco se ocupa de
tapar apenas suas costas nuas. Fecho os olhos pra te imaginar entregue nos meus
braços, sua cintura prensada nas minhas digitais e sua boca colada na minha
língua. Um frio assanha meu corpo inteiro, enquanto passeio meus olhos pela
curvatura da sua silhueta. Percorro a distância entre a porta e a cama, toco
devagar sua nudez melancólica, como se seu corpo inteiro chorasse por me ver.
Meus olhos, apertadinhos, se
inflamam e te percebem de uma forma inusitada: você parece uma flor. E caberia
a mim, naquele momento, despetalar seus pudores, te entregando cada sentimento
disfarçado de carne. Encosto meu rosto nas suas pernas e dedilho o espaço entre
as nádegas e a lombar. Brinco de passear minha mão como se eu estivesse em um
trânsito muito ameno e o ir-e-vir fosse uma necessidade urgente.
Como se uma sensação de eternidade
me tomasse, subo minhas palmas em direção aos seus seios que se encaixam como
duas esferas exatas no meu tato. Seu corpo ainda pende de bruços e é como se eu
te abraçasse por trás, me deitando sobre seu corpo que suspira com o meu peso.
Passamos a respirar o mesmo ar, de forma que o movimento dos nossos diafragmas
ganham o mesmo ritmo. É quando começo a apertar o seu corpo e a movimentá-lo
para que você, meio dormindo, meio acordada, pudesse se sentir dentro de um
sonho muito bom.
Você abre os olhos em um lampejo,
me entrega um sorriso de amor-sacana e me beija a boca com a volúpia de uma
paixão sofrida. Arranca a minha roupa num furor animalesco e me arranha as
costas como se precisasse se segurar em mim para não se afogar. Afogamos. Seus
ruídos intensos me convidam para margear sua nuca, lambendo o rastro do seu
perfume ainda incandescente. Minha língua infiltrada na sua orelha, minhas
pernas enroscadas no seu quadril, meus indicadores incinerando a ponta dos seus
seios sem qualquer gentileza que me é natural.
Seu ardor. Meu desejo. Seu carinho
de amor-eterno. Meus sentimentos aflorados em notas. Nossa música sendo
sustentada por um ritmo de corpos indiscretos. A fala. O falo. A entrega.
Profunda. Internamente precisa. O suor e o sufoco. Os gemidos e o estremecimento.
O encontro das almas e o pedido genuíno de casamento. A cumplicidade nos lábios
mordidos, nas carnes rasgadas, na pele arranhada.
Não, meu amor. Isso tudo só seria
verdadeiro se eu tivesse adentrado à porta ao invés de apenas bisbilhotar pela
fresta. Seu sono é irretocável. Mais bonito te ver dormir. O amor é deixar a
paz tomar conta e permitir seus olhos enxergarem um caminho melhor. Dou meia
volta depois de encostar a porta e checar que o lençol ainda te cobre pela metade.
Ninguém precisa ser inteiro. Ninguém precisa de despedida. Ninguém precisa de
nós dois.
2 comentários:
<3
Que perfeito!!!
Sua poesia me fez flutuar pelas linhas do seu texto...
Adorei!!!
Bjo, bjo!!!
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