Algumas vezes, Rute me chamava para conversar. Era uma conversa de sinais, de olhos, bocas, sobrancelhas, pálpebras. O corpo de Rute falava, enquanto me levava para algum lugar muito perto do sol. Naquela época, eu não sabia o que era o amor entre homem-mulher, por isso eu a amava como mãe, como alma. Aquelas mãos que amoleciam meus cabelos e me ofereciam bolo de fubá; aquela voz que enfeitava as histórias mais encantadas e me chamava de meu querido; aqueles pés sempre limpos que pedalavam a parte de baixo do piano: música que eternizava. Quando a gente cresce, as pessoas ficam desinteressantes. Caem da moldura e se mostram covardes para serem lindas. Eu, criança, conheci a sinceridade de Rute. Hoje, ela, envergonhada da minha barba e da minha voz grossa, caminha apressada na rua e me manda um tímido aceno. Ah, que saudade de Rute.
6 comentários:
é o que sempre falo, o tempo está aí pra acabar com tudo, sem o menor pingo de misericordia...
abraço!
que graça!
O primeiro amor, ainda na infância, é o mais doce. Amar com a alma é lindo.
Adorei seu cantinho, lhe sigo.
Beijo doce, ótimo fim de semana.
A gente vai crescendo e vai vendo coisa onde não tem, isso sim.
A simplicidade de outrora parece até que se esconde debaixo das preocupações e bobagens mais corriqueiras que aqueles afagos simples da Rute. Ah, Rute!
Você ganhou uma centésima seguidora, tá?!
Beijos!
Ai que saudade da minha inocência de criança, quando eu achava que a minha espécie era cheia de pessoas legais.
Que saudade.
Discordo completamente daquela música da Maria Gadú que exalta o tempo. O tempo é um dos senhores mais feios. Destroi tudo, até as coisas que não merecem.
O tempo mostra outros lados, outras perspectivas. Não é mau, só implacável.
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