Há alguns meses eu me comprometi
a registrar, em um diário, a história de vida dela. Sentávamos na quinta-feira
a noite (ou no domingo a tarde) e íamos conversando sobre os momentos marcantes
que ela viveu. Infelizmente não conseguimos passar das lembranças da infância,
mas estou certo que isso foi suficiente para que ela recordasse as coisas
bonitas que estavam esquecidas no porão da memória.
Ela nunca se queixava. Disse que
era muito feliz, que teve uma infância feliz, uma família feliz. Era tão
difícil para ela pensar em um fato impactante, pois o tempo todo viveu momentos
muito lineares. Que equilíbrio! Que serenidade! Que certeza de que estava tudo
nas mãos de Deus! Fé invejável.
Ela foi uma mulher linda.
Marcante. Não era de abraços e afetos, mas era dona das melhores palavras. Ela
acolhia com os olhos, com a alma, com o corpo inteiro. Sempre se entregou. Eu
amava os biscoitos de queijo que ela fazia, os bolinhos de chuva e os textos
poéticos, cheios de reticências. Ela é uma mulher de reticências, não colocou
ponto final. Está aí, deixando um belíssimo legado.
Construiu uma família cheia de
valores, ensinou tanto. Exemplo de caridade, abnegação, força e companheirismo.
Quantas vezes estive com ela, cheio de melindres, e ela me acolheu sem
julgamento? Era um porto seguro.
Fizemos muitas viagens juntos. Ela
sempre muito simples, apreciava as belezas de todo canto. Tudo estava bom, tudo
estava certo. Alma pura, leve, iluminada. Pensava sempre no próximo. Vivia pelo
próximo. Não pedia nada em troca. Não cobrava. Não brigava (embora fosse
extremamente convicta do que queria).
Que sorte a minha tê-la durante
32 anos. Que sorte a nossa conviver com esse exemplo de ser humano. Minha avó,
minha segunda mãe, minha amiga, minha inspiração, minha eterna paixão. Descanse
em Deus!